Barão Vermelho prepara primeiro álbum com nova formação para 2019

A única pressão que o baterista Guto Goffi sente hoje é a idade. Um dos membros fundadores de uma das maiores bandas de rock nacional – o Barão Vermelho - não se intimida mais com críticas, seja de parte do público ou de jornalistas. O quase sexagenário Guto, de 56 anos, despreocupadamente concedeu entrevista exclusiva por telefone ao grupo O LIBERAL falando sobre o novo álbum que está em produção e deverá ser lançado no próximo ano com composições já da recente formação com Rodrigo Suricato nos vocais.

Guto parece encarnar ainda a alma do rock, que sem tomar conhecimento dos outros, só quer tocar a sua música. Os 37 anos de história do Barão Vermelho com momentos de altos e baixos naturais de qualquer banda sedimenta a tranquilidade de que Rodrigo Suricato conseguirá substituir a altura Roberto Frejat, o vocalista e guitarrista que esteve à frente do Barão desde o quarto álbum, de 1986.

“A gente tem que viver a vida a partir de hoje. Na minha faixa de idade acho que tenho um quarto de vida ou dois, já estou apontando para o infinito. Acho que a gente tem que ir para frente, embora saiba que é difícil com a banda de rock. Existe viúva do Cazuza, existe viúva do Frejat. A gente que está ainda aqui, quando fulano estava mas já passou. A gente teve a oportunidade de viver estes momentos maravilhosos. Mas, isso é o passado, passou. Vamos nos preocupar com o porvir e fazer credibilidade da nova formação”, destaca.

Recentemente, o grupo divulgou um novo single chamado “A Solidão te Engole Vivo”, composição de Guto com Fernando Magalhães e Maurício Barros, disponível em todas as plataformas digitais.

A música é um pop rock considerado pela crítica como “good vibes”. “A gente deveria escolher uma música nova das primeiras cinco que tínhamos gravado, que de certa forma se conectasse ao passado do Barão. Ela acabou correndo por fora, não era a princípio a que iríamos escolher, mas acabou sendo ela por ter no arranjo dois solos de guitarra, e a letra trazer uma mensagem. Ela não é uma música leve, como você pensa, a frase 'a solidão te engole vivo' é uma marretada na cabeça. O recado não é tão leve e fica como contraponto”, falou.

Saída de Frejat marca novo ciclo na carreira da banda|

A saída do vocalista Roberto Frejat é mais um momento de mudança que ficará marcado na história da banda. Entretanto, desta vez Goffi está muito mais confiante do que na saída de Cazuza na década de 80, quando o Barão voltou a tocar para plateias pequenas. A banda demonstrou que era capaz de compor e tocar grandes músicas mesmo sem o genial Cazuza. Guto é um dos compositores responsáveis por clássicos como “Torre de Babel”, “Declare Guerra”, “Pense e Dance”, “Meus bons amigos” e “Puro Êxtase”.

“É o meu oficio. Eu sei fazer, me sinto uma pessoa inspirada para pegar algo do abstrato transformar em músicas e poemas, e me sinto confortável de fazer esta parte bem. O que eu torço e vibro é para que as pessoas gostem disso, e tenham vontade de escutar”, acredita.

A confiança em Rodrigo Suricato como novo vocalista para um novo momento da banda é uma crença do baterista feita durante diversos momentos da entrevista. Mesmo assim, com franqueza Guto confidencia que não conhecia o trabalho da banda Suricato, somente da televisão. A sugestão foi do tecladista Maurício Barros que tocou com Rodrigo durante um festival.

Uns dois anos atrás durante o festival, Maurício gravou Rodrigo tocando no violão e cantando a música do Barão “Flores do Mal” que também chamou a atenção de Guto. “Quando começamos a procurar um cantor novo, os pensamentos foram nele, mas falamos ‘ele deve estar focado na carreira, tem a própria banda, mas vamos ligar’. O Rodrigo topou na hora, foi um motivo de felicidade muito grande. Tínhamos um novo cantor e a gente nem se conhecia. Quando nos encontramos tocamos 19 músicas do Barão, porque ele era um fã da banda então foi muito natural”, relembra o primeiro encontro.

A história da banda mostra que sonoridade mudou ao longo dos anos. Mesmo álbuns criticados no início como “Puro Êxtase”. Os integrantes sempre se atualizaram às tendências da música brasileira mantendo coesão com a própria história. “A gente sempre mudou muito a sonoridade, se aproximou de outros estilos mais soul, funk, mais MPB. Sempre foi algo inerente. O rock é uma música bastarda, se presta a misturar com outras coisas”.

Músico elogia o trabalho do grupo paraense Trio Manari

Uma das misturas que Guto pretende no futuro acerta é com o trio paraense Grupo Manari. Ele se diz fã dos sons do grupo e que adoraria tocar com “os meus amigos do Trio Manari. Adoraria tocar a percussão de um carimbó. Estou na idade de curtir. Sem curtição não vale nada”, aponta. A banda conta ter muita vontade para vir para Belém. Em turnê desde 2017, o Barão não visitou a capital paraense. “Adoro a localização desta cidade no coração da floresta amazônica. Ela mexe demais com o meu metabolismo ao tomar um banho de chuva, a água é vida, e quero muito ir para Belém”.

Acostumado a vivenciar e gerenciar uma banda, o principal fantasma de Guto Goffi não é o passado, a pressão de fãs ou da crítica, mas a luta contra o próprio tempo. A força ao falar do que ainda almeja transparece a vitalidade do rapaz de 19 anos que fundou o Barão Vermelho com o amigo Maurício Barros.

“Eu tenho não tenho idade mais para perder pênalti. Eu tenho que dar tudo, botar toda a energia, toda a felicidade para aquilo reverberar e chegar às pessoas. Estamos com esta vontade de mostrar que o Barão é uma puta de uma banda ainda. É o tesão mesmo, o músico tem que se concentrar e manter a chama interna da arte e nem deixar que a vida ou outros apaguem o que você consegue fazer”.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)