"A música pra mim é a medicina da alma", diz Elza Soares, aos 81
"A música para mim é a medicina da alma. É aquilo que me faz viva, me faz mais forte, e faz repensar”, diz Elza Soares, que aos 81 anos de idade vive um dos melhores momentos da carreira. Na segunda-feira (26), ela participou de um bate-papo com o público junto ao jornalista e autor de sua biografia, Zeca Camargo, no Red Bull Music Festival, em São Paulo.
Em entrevista exclusiva a O Liberal, a cantora relembrou as vezes em que visitou Belém, e falou sobre a fase atual da carreira. “São várias Elzas, cada uma falando uma coisa que gosta, e você acredita que nenhuma disse o que não gosta? Todas dizendo ‘eu gosto’. Todas empolgadas, todas felizes. Essa aqui está feliz de estar falando com você. Mandando beijo para Belém, dizendo que a há muito tempo não vou para lá, e estou muito feliz, nesse momento maravilhoso ao lado do Zeca, um escritor maravilhoso, esse artista que a gente ama”, disse Elza.
Sobre a cena musical paraense, Elza destaca Dona Onete e diz que gostaria de conhecer muito mais artistas, mas há um problema de divulgação, e ela pouco ouve falar dos paraenses. “Eu conheço Belém, fui várias vezes, tenho grandes amigos lá. Lembro de aos domingos ir à feira do Ver-o-Peso comprar ervas. Preciso voltar para comprar umas coisas lá”, brinca. “Por incrível que pareça não conheço nenhum artista de lá, porque vocês não divulgam os artistas de vocês. É preciso fazer um esforço e divulgar os artistas. A gente precisa conhecer todo mundo”.
Com mais de 60 anos de carreira, Elza Soares nasceu no Rio de Janeiro, em 1937, mas despontou como cantora em São Paulo. O início foi complicado, mas desde os 13 anos de idade a música nunca lhe abandonou, e foi onde a artista viveu seus momentos de glória. Atualmente, Elza é considerada uma das vozes mais importantes da música. Em 1999, foi eleita pela rádio BBC britânica a “melhor cantora do milênio”.
Ela relembra que sempre quis ir além do samba, mas os limites impostos por sua gravadora deixavam os planos na gaveta. Um dos momentos de ruptura veio com o álbum “Do Cóccix Até o Pescoço”, em 2002, onde a cantora pôde flertar com ritmos diferentes e experimentar a música eletrônica. Ela relembra que originalmente o disco se chamaria “Foda-se”, pois significava justamente seu momento de cantar o que queria.
Desde então a cantora viveu diversos boas fases na carreira, como ela mesma descreve, foram várias Elzas. Outro momento marcante ocorre em 2015, com o lançamento de “A Mulher do Fim do Mundo”, com letras cheias de discursos fortes de empoderamento, que sempre estiveram presentes em sua obra, mas que ficaram marcados com a força de sua voz cantando umas das frases mais icônicas da faixa título do disco: “me deixem cantar até o fim”.
Em 2018, Elza lançou seu 81º trabalho fonográfico, “Deus É Mulher”. Para o trabalho, a artista recebeu mais de 300 composições, selecionadas cuidadosamente até chegar às 11 faixas do disco. Ela diz que este álbum é mais celebrativo que “Mulher do Fim do Mundo”, considerado mais denso.
Ao longo da carreira, Elza teve que enfrentar diversos momentos difíceis, como a morte de seu filho com o jogador de futebol Mané Garrincha, três anos após a morte do jogador. Ela diz que a música é seu remédio, e dois dias após a morte do filho de oito anos de idade, estava de volta aos palcos.
Sobre o momento atual e as projeções para os desafios futuros da cultura no país, a cantora diz que precisamos lutar. “Vou falar de uma coisa que todos nós brasileiros precisamos, que é lutar muito pela cultura. E estou falando do Brasil, falando da arte, isso é o que o Brasil inteiro precisa fazer, falar da arte, falar da cultura. Sem isso o país não vive”, declarou.
Fonte: O Liberal (Texto e Foto)
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