Encontro de intensas almas




Crônica da Atualidade - Por Conceição Maciel




O que é a arte afinal? Não é fácil defini-la, talvez não exista definição precisa para ela, apesar das nossas frequentes tentativas, mas a sua amplidão torna mais difícil defini-la, embora ela própria já fale por si só, por suas inúmeras facetas, por sua pluralidade e ao mesmo tempo por sua singularidade, contradições ambíguas que dificultam sua definição. É fascinante a multiplicidade das linguagens e a diversidade das falas que transbordam das tramas, dos dramas, das composições, das canções, dos sons, dos ritmos, das cores, dos gestos, das imagens que se filtram no cotidiano e embelezam a visão de cada ser humano que se encanta com a intensidade implícita nas demonstrações artísticas que se descortinam à sua frente.

A arte tem uma peculiaridade que por vezes transborda aos olhos, outras vezes fica implícita em si; as vezes ela cala, outras vezes ela se expõe de maneira explícita; ela denuncia ou elogia; massageia o coração endurecido e muitas vezes leva a reflexão e a visão mais ampla sob a ideia do autor, suas intenções e motivações.

Ao contrário da dificuldade em definir a arte, reconhece-la não é tão difícil assim, e reconhecer o artista é mais fácil ainda, principalmente quando o encontramos nos traços de sua obra, nas peculiaridades impressas em cada pedaço de composição. Apesar das díspares acepções dadas à arte, encontramo-las em cada canto, em cada recanto, em cada passo que damos ao longo da nossa caminhada diária, nesse labirinto que é o universo artístico.  

Se é difícil encontrar a definição para a arte, para a do artista é mais simples, mais universal, mais emblemático e real, principalmente sobre o artista contemporâneo que se veste e se traveste de sentimentos, de emoções, de realidade; que grita, se impõe e se desnuda em estímulos; que caminha nos espaços entre as palavras, que vê nos sulcos entre as calçadas e as ruas, nas vozes exaltadas ou abafadas dos transeuntes apressados, inspirações para uma nova produção poética.

E foi inspiração o que se viu no I Sarau dos Poetas Contemporâneos, um encontro ou melhor, uma junção de emoção, beleza e encanto, onde cada poeta mostrou sua aura e plantou sua alma poética nos corações dos artistas presentes naquele belíssimo evento literário. Em cada rosto uma emoção que definia o encontro; em cada sorriso o raiar de uma nova inspiração para um novo reencontro.

Ali, naquela festa literária ornada de pingos de poesias e brindada a vinhos e risos alegres, reinou a Literatura, reinou o amor pela escrita, reinou o encanto pelas letras e principalmente, reinou a amizade que se fez aos poucos, timidamente através de um aplicativo de celular com a proposta de juntar vários poetas em um grupo, para juntos compartilharem suas produções literárias. E deu certo, aos poucos os poetas foram deixando a timidez de lado e passaram a dividir suas emoções, alegrias, tristezas, saudades e lembranças através de suas poesias naquele grupo denominado “Poetas Contemporâneos”.

Quando as pessoas que tem a emoção a flor da pele se juntam, com certeza algo de muito cativante irão produzir e naquele dia, ou melhor, naquela noite memorável não poderia ser diferente; sob um belo luar e ao som de músicas populares brasileiras, foram surgindo as emoções em formas de poesias, em versos, em prosas, em cordéis, em aplausos, em conversas ao pé do ouvido, em declarações de amor, em lembranças nos quintais, em sonhos realizados, em sorrisos extasiantes, em exposições de sentimentos que se perpetuaram e ficarão para sempre em recordações guardadas no peito e na mente.

Construiu-se naquele momento uma amizade verdadeira, como não poderia deixar de ser em um encontro de almas, de vozes, de diferentes estilos, mas de igual sentimento, de igual emoção. No ritmo sensível de afeto e arrebatamento, os poetas declamaram suas poesias em um momento emocionante e único, nas vozes fictícias de suas produções literárias, um pouco de si; uma semente plantada, germinada e colhida foi oferecida em versos floridos e perfumados, tudo devidamente capturado pelas lentes atentas de olhares emocionados e expostos nos corações de cada um que ali estava.

Ali não havia o poeta e a poetisa, ali haviam artistas atraídos pelos ecos emitidos dos sons das poesias declamadas por diferentes vozes, deixando rastos pueris ou maduros, mas certamente caminhando para o indômito que cada um guarda em si, prestes a explodir em ímpetos libertários. A cada nova declamação, uma explosão de beleza e encanto, alguns primaram por lembranças de casa, da infância, do passado recente, outros deixaram eclodir o amor oculto em si ou em suas raízes, na simplicidade do cotidiano, nas recordações de seus filhos, na contemplação de sua querida cidade, tudo na mais perfeita sintonia.  

Mesmo em sua heterogeneidade, naquele momento a arte se encontrou na sua perfeição, pois é na diferença que o encanto acontece; nas apresentações do Cordel e da Poesia mesclados perfeitamente na suavidade dos versos profundos da Poesia e na intensidade da representação do Cordel, amostra grátis de encanto. Construiu-se ali naquele cenário onde choveu poesias, sorrisos e risos; naquele cenário aglomerado de alegria, onde festejou-se o encontro tão esperado de poetas, onde reinou a literatura, onde os pingos de poesias ornamentaram cabeças privilegiadas, onde os abraços mesclaram alegrias, onde os sorrisos inspiraram poesias, onde o vinho  molhou a garganta embargada pela comoção, onde as vozes só se exaltaram para saudarem uns aos outros, onde a despedida se fez de maneira suave, leve como a brisa que rondava a noite ruidosa dos poetas contemporâneos, uma amizade literária flanou entre versos de amor.

Quem sabe agora a arte não ficou mais fácil de ser definida? Especialmente a arte literária. Depois de um encontro como aquele, em que a arte da escrita foi enaltecida, em que o escritor desnudou-se e se deixou contemplar na profundeza da sua essência, sem timidez, sem desculpas; se mostrou por completo, se deixou ver nas combinações de seus versos, nos arranjos alegóricos e/ou metafóricos; mostrou-se nu, cru, por inteiro; mostrou sua alma, seu eu, se expôs por completo, tudo se tornou mais fácil. A arte é um universo de inspirações e cada um a define a sua maneira. Eu a defino “Encontro de Intensas almas”. Saudações literárias.

 
Maria da Conceição Maciel da Silva
Formada em Letras pela Universidade Federal do Pará
Titular da Cadeira de nº 10 da Academia Capanemense de Letras e Artes (ACLA)
Capanema- Pará, 16 de agosto de 2018.
      






Edição: Paulo Vasocncellos e Maikon Douglas
Foto: Divulgação/Facebook

3 comentários:

  1. Realmente amada, a sensibilidade aflorou em nós.
    Mas o momento de delicadeza era de se esperar. Ouvir suas poesias me traz uma certa calma e faz minha alma inebriar_se de tanta ternura. Parabéns!

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  2. Um momento como aquele que vivemos, não poderia passar sem que eu me desfizesse em poesia e acalentasse cada um dos poetas em meus versos e em minha prosa. Fico muito grata por tamanha consideração em divulgar meu texto. Muito obrigada PV.

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