Cine Olympia festeja hoje 105 anos de atividades

Cine Olympia festeja hoje 105 anos de atividades  (Foto: Ricardo Amanajás)
Com o avanço da tecnologia e novos hábitos de consumo cultural, os cinemas de rua deixaram de ser uma opção rentável para empresários e de local preferido para diversão, para os espectadores. No Brasil restam poucos e um destes é o Cinema Olympia, localizado na Avenida Presidente Vargas, no centro de Belém, que hoje completa 105 anos de fundação. É custoso mantê-lo, sobretudo diante de uma lógica não comercial e sim de um espaço cultural, mas os esforços para destiná-lo a esse fim são considerados louváveis.
Inaugurado em 1912, quando o período áureo da borracha já estava em decadência, o Cinema Olympia representa hoje a resistência de uma pedagogia cinematográfica, como define o programador do espaço, Marco Antônio Moreira - que por meio de parcerias com embaixadas, consulados e cinematecas, principalmente, realiza a curadoria da programação com base em títulos que jamais seriam aqui exibidos nas salas dos shoppings (que têm se limitado a exibir filmes de entretenimento) e que são produções de países Europeus, Asiáticos, do Oriente Médio, ou seja, fora do mercado hollywoodiano.
Mas quem assiste a esses filmes? O público é variado. Marco comenta que atualmente visita o espaço tanto o curioso transeunte, quando o turista que está hospedado pelas redondezas e por ali passa. Há também uma parceria com escolas para a inclusão de crianças no ambiente, que funciona gratuitamente. “Pensamos o espaço a partir do conceito de cultura cinematográfica e a ideia é criar projetos para incentivar essa busca, para estimular a curiosidade das pessoas, para que se interessem pelos filmes. Isso é algo importante e necessário”, defende o programador.
Com 430 lugares, o Cinema Olympia é desde 2006 mantido pela Prefeitura Municipal, por meio da Fundação Cultural de Belém (Fumbel) - que após uma movimentação de artistas e produtores culturais, cedeu o espaço para fins de uso público. O risco era deixá-lo às traças após o grupo Severiano Ribeiro, dono do imóvel, ter decretado o fim das atividades no cinema. Hoje, a maioria das exibições são realizadas em projeção de vídeos em DVD e Blu-Ray - que, segundo Marco Antônio, são compatíveis com os formatos das distribuidoras.
“O grande lance do Olympia é ser um cinema com portas abertas. É a resistência de um padrão histórico de salas que não existem mais. Está mais próximo das pessoas, é mais imediato do que cinema de shopping, e isso ainda é um encanto que deve ser preservado, como outros poucos que ainda estão funcionando, como o cinema Odeon no Rio de Janeiro e outros em Recife, mas nenhum tão antigo quanto o Olympia”, comemora.


Por dentro: hall e a sala de exibição, com suas famosas poltronas vermelhas, sempre foram espaço cultural democrático desde a criação, no fim do período da borracha, e local de resistência da ditadura militar (Fotos: Ricardo Amanajás)

Testemunha de mudanças históricas
Oprofessor de Filosofia e Estética da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ernani Chaves relaciona a inauguração do cinema Olympia à transformação social de Belém - quando o símbolo máximo da cultura local, o Theatro da Paz, próximo ao cinema, apresentava óperas e contemplava majoritariamente a burguesia da cidade. Mesmo assim, de maneira muito paradoxal, quando o Olympia foi inaugurado a chamada época áurea da borracha já estava caminhando para o fim.
“Isso não diminuiu a importância do cinema, pelo contrário, vai assumir lugar absolutamente fundamental na paisagem da cidade devido a esse momento de crise, por atingir público de diversos extratos sociais”, analisa. 
Segundo Ernani, o cinema chegou a Belém apenas 17 anos após a primeira exibição oficial (“se formos tomar a data de criação oficial do cinema como 1895, que é contestada”, ensina ele). As sessões iniciais ocorriam aos finais de semana, o que coincidia com o horário vago de lazer da classe operária, e horários e linhas de bonde foram alterados para atender a demanda. Além disso, anos depois, o espaço se transformou num abiente da contracultura, com sessões de filmes de arte nas década de 1960 e 1970, o que formou uma geração de intelectuais na cidade.
“A presença do cinema ainda funcionando e de graça, principalmente, é de fato acontecimento grande. Na década de 1970, na época da ditadura, circulavámos entre o Bar do Parque e o Olympia, pois ocorriam as sessões de arte às 23h, de sexta para sábado. Grande parte da cultura da minha juventude se passou ali e é hoje uma referência da memória. E melhor: uma referência viva e que resiste e se renova”, conclui o professor.
Comemoração
Para comemorar, será exibido hoje, às 18h30, os filmes “Ninho de Amor”, de 1923, seguido de “Sherlock Jr.”, de 1924, clássicos do cinema mudo respectivamente estrelado e dirigido por Buster Keaton. O pianista Paulo José Campos de Melo fará apresentação ao piano ao vivo. A entrada é gratuita. O Olympia fica na Avenida Presidente Vargas, 918 - Campina
Fonte: DOL

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