E o tempo passa em Velho Chico

SEGUNDA FASE: O ator Antonio Fagundes entra na trama na pele do temido coronel Saruê

Quase 30 anos se passaram, mas Saruê (Antonio Fagundes) não vai deixar que os cabelos brancos apareçam. Com as décadas, Afrânio ganhou poder e é seduzido por ele cada dia mais. Acumulou uma enorme vaidade e assumiu, com todas as contradições, a figura do coronel, conservando ao mesmo tempo um desejo de juventude eterna. Saruê parece querer ter controle sobre o tempo, como quem guarda um elixir. “A caracterização repleta de vaidade é muito comum aos homens ligados ao poder em toda América Latina. Eles pintam o cabelo acaju, usam peruca, maquiagem, fazem plástica e outros procedimentos cirúrgicos. Tudo para que a imagem se renove a cada ‘mandato’, imaginando não se tornarem decadentes, mas é justo o contrário que ocorre. São líderes, figuras emblemáticas que fazem parte da história de nosso país e que não se encontram tão distantes do nosso dia a dia”, conceitua o diretor Luiz Fernando Carvalho.
“Eu digo para o Rodrigo: ‘olha o que a vida fez com você’, que triste”, brinca Fagundes, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. O ator assume o personagem já com alguma carga de maldade nas costas. Ele já disse que as histórias do autor não têm vilões. Afinal, os malvados das sagas do dramaturgo costumam ter seus pecados arrefecidos ao longo da trama. “Acho que novela do Benedito, como devia ser na vida, não tem vilões. Ela tem humanidades, pessoas que fraquejam em alguns momentos, erram, mas também que, apesar dos seus erros, são capazes de se rever.”
Ou não. Em menos de um segundo, Fagundes refaz seu raciocínio: “Se bem que acho que a realidade está desfazendo isso tudo que estou dizendo. Nós estamos vendo agora, na realidade, vilões, canalhas inteiros, pessoas que não têm a menor possibilidade de se redimir. 


Edição: Roberto Lisboa
Fonte: O Liberal