Onde as minorias não têm vez

Estudo revela que Academia é dominada por homens, brancos e héteros



Um estudo realizado por pesquisadores da Escola Annenberg de Jornalismo e Comunicação, pertencente à Universidade do Sul da Califórnia (USC), divulgado na segunda-feira, mostrou a face nada democrática das produções realizadas pelo cinema de Hollywood: os protagonistas são quase sempre homens, brancos e héteros, informou a agência EFE e o G1.
A pesquisa acendeu ainda mais os debates sobre preconceito na Academia, que iniciou com o anúncio dos indicados ao Oscar deste ano, que não teve nenhum negro entre os escolhidos. Esse fato motivou a ameaça de um boicote por parte da comunidade negra assim como o anúncio da Academia de que tomará medidas para aumentar a diversidade nos próximos anos. A cerimônia de premiação será no próximo domingo.
Por conta dessas circunstâncias, cresce a expectativa de que Chris Rock, que será o mestre de cerimônias da premiação, comente a situação com o senso de humor que lhe é peculiar e várias vezes serviu para denunciar o racismo. Na cerimônia de 2015, o apresentador Neil Patrick Harris comentou a questão. “Bem vindo ao 87ª cerimônia do Oscar! Nesta noite iremos honrar os melhores e mais brancos de Hollywood. Ops, quis dizer os mais ‘brilhantes’!”
Em novembro do ano passado, o cineasta Spike Lee recebeu um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra. Ele criticou a indústria cinematográfica ao dizer que “era mais fácil um negro ser presidente dos Estados Unidos do que ser o presidente de um estúdio”. “No ano de 2043, os americanos brancos serão uma minoria neste país. Todos vocês que estão na posição de contratantes hoje precisam ficar esperto porque a sua força de trabalho deve refletir o que este país é. Todos aqui provavelmente votaram no Obama, mas quando eu vou escritórios eu não vejo nenhum negro, exceto pelo cara que cuida da segurança”, afirmou o cineasta.
DADOS
O estudo “Inclusão ou Invisibilidade”, baseado na análise de 414 produções audiovisuais (109 filmes e 305 séries de TV) de 2014 e 2015, afirma que “a indústria do cinema ainda funciona como um clube de meninos brancos e heterossexuais”, envolvendo tanto profissionais que se encontram diante como atrás das câmeras.
O trabalho concluiu que apenas 18% das produções apresentaram um elenco diverso quanto ao gênero e que atualmente, apenas 33,5% dos personagens com diálogo foram femininos, porcentagem que caiu até 28,7% no caso de papéis em filmes. “Está claro que as mulheres seguem estando ainda pouco representadas na tela ao longo do ecossistema da ficção popular”, destacou o relatório. A discriminação na representação de papéis femininos piora quando se aumenta a idade, dado que três de cada quatro dos papéis para maiores de 40 anos foram para homens.
Além disso, o estudo focou sua atenção na sexualização dos personagens femininos e concluiu que 34,3% das mulheres apareceram com “roupa sexy”, contra 7,6% dos homens; e 33,4% mostraram algum tipo de nudez, em contraste com 10,8% dos homens. E por trás das câmeras, a situação também não melhora: apenas 15,2% dos produtores eram mulheres (3,4% no caso de diretoras de filmes) e só 28,9% dos roteiristas eram escritoras.
Quanto à representação de minorias ou outras raças, 28,3% dos personagens com diálogo não eram brancos (12,2% eram negros; 5,8%, latinos; 5,1%, asiáticos; 2,3%, do Oriente Médio; e 3,1%, de outras etnias), apesar da proporção real destes grupos demográficos ter ascendido até 37,9%, segundo o Censo dos Estados Unidos. “Cerca da metade das produções analisadas não apresentaram personagens de origem asiática e 22% não incluiu papéis de negros”, indicaram os pesquisadores.

Os dados dos diretores foram ainda menos positivos: levando em conta só os produtores de filmes, 87,3% deles eram brancos. Por último, apenas 2% dos personagens com diálogos eram gays, lésbicas ou bissexuais, uma porcentagem menor ao 3,5% da população americana que, segundo um estudo do Instituto Williams da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), se identifica como parte da comunidade LGBT. Incluindo também às pessoas transgênero, cerca de três quartos dos personagens LGBT foram homens e quase 80% do total eram brancos.

Edição: Roberto Lisboa
Fonte O Liberal/Magazine