Acadêmicos do curso de Libras da Uepa começam graduação
O designer gráfico e karateca Manoel Adelino Borges, 25, precisou adiar o sonho de concluir o curso de Educação Física em uma universidade pública, por não haver intérpretes para traduzirem na Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), os conteúdos ministrados em sala de aula. Manoel é surdo. Ele não encara a deficiência como um obstáculo. Pelo contrário, concorreu e foi aprovado no Processo Seletivo do curso de Licenciatura em Letras – Libras 2016, da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
designer gráfico e karateca Manoel Adelino Borges |
Manoel é um dos 18 surdos aprovados na graduação, que pela primeira vez abriu vagas específicas para deficientes auditivos. O estudante escolheu o curso com o intuito de retornar ao curso de Educação Física para ensinar outros deficientes que tem o mesmo sonho que o dele: trabalhar com esportes. “Escolhi Letras - Libras porque quero ter experiência para ensinar os surdos no curso de Educação Física. O surdo precisa ser motivado. Era muito difícil um surdo estudar numa universidade. Demorou muito para isso acontecer. Agora houve essa inclusão na Uepa”, destaca Manoel com auxílio de um intérprete.
As aulas se iniciaram nesta semana, no Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE), o Campus I da Uepa. Na terça-feira (23), acompanhado da pró-reitora de Graduação, Ana da Conceição Oliveira; do pró-reitor de Extensão, em exercício, Anderson Maia; da diretora de Acesso e Avaliação, Gloria Rocha; o reitor da Uepa, Juarez Quaresma, foi até a sala de aula dos estudantes para parabenizá-los pela aprovação e ressaltar o apoio ao curso.
“Nós estamos aqui para poder cumprimentar cada um de vocês e dizer o quanto estamos felizes pela turma que começa essa jornada. A turma é fruto de um Processo Seletivo Especial. Voltado para vocês. Estou muito feliz em tê-los na Universidade. Nós estamos de portas abertas para recebê-los. Vamos em frente cada vez mais, investindo no curso para que daqui a quatro anos vocês comemorem essa vitória”, destacou.
Para o ingresso dos alunos surdos, a Uepa reformulou o processo de seleção, que até então só recebia alunos ouvintes. A seleção consistiu em uma prova de proficiência em Libras, por meio da apresentação de um vídeo com 20 questões na língua de sinais. As questões eram sobre alfabeto, vocabulário, morfologia e parâmetros das Libras e deveriam ser respondidas num cartão resposta.
A segunda fase foi uma prova objetiva com questões de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, História, Geografia, Biologia, Matemática e Redação. A pró-reitora de graduação, Ana da Conceição, pontuou as mudanças na seleção. “A Universidade amadureceu o processo. Antes nosso formato não era inclusivo. Debatemos e culminou em provas específicas. As mudanças foram inclusivas”, destaca.
Felipe Andrei dos Santos Dias, 19, faz parte dos alunos ouvintes. Ele conta que cursar Licenciatura em Letras - Libras é a realização de um sonho que nasceu na infância. “Meu primeiro contato com surdos foi aos meus 10 anos, na igreja. Eu me interessei e um casal de amigos me colocou para aprender a interpretar músicas, pregações. Desde essa idade eu já dizia que queria fazer um curso superior de Libras. Mas naquele tempo não existia. Agora vou poder ajudar os surdos e apresentar uma nova língua aos ouvintes”, comemorou.
O curso ofertou 40 vagas, divididas igualmente em duas categorias: Pessoa Surda e Pessoa Ouvinte. A maior demanda foi para Pessoa Ouvinte, com 224 inscritos, que totalizou a concorrência de 11,2 candidatos para uma vaga. A graduação tem duração de quatro anos. As aulas são ministradas com o auxílio de intérpretes de Libras.
A primeira turma de Licenciatura em Letras - Libras começou em 2012. Até então, o Processo Seletivo era igual ao dos demais cursos e não havia alunos surdos, apenas ouvintes. Com a reformulação das etapas de seleção, os candidatos com deficiência passaram a compor a turma em 2016.
Edição: Roberto Lisboa
Fonte: Agência Pará de Notícias
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