“Solo de Marajó” em cartaz hoje
O espetáculo teatral “Solo de Marajó” está em temporada todas as quartas e quintas-feiras deste mês de junho, sempre às oito da noite, no auditório da Fibra (av. Gentil entre av. Generalíssimo e tv. 14 de Março), com uma novidade: cada um decide quanto pode pagar pelo ingresso. Depois de uma temporada no Rio de Janeiro com sete apresentações realizadas em quatro espaços diferentes no início deste ano, o espetáculo voltou a Belém no mês passado e fez curta temporada no Sesc Boulevard, com casa cheia. Na peça, o ator paraense Claudio Barros narra, sozinho sobre um palco vazio, oito pequenas histórias extraídas do romance “Marajó”, o segundo de uma saga em dez volumes do romancista Dalcídio Jurandir, intitulada Ciclo Extremo Norte, cuja densidade e fôlego ombreia com a produção romanesca de grandes nomes da literatura moderna brasileira. Ainda este ano, o espetáculo realiza turnê nacional por dez cidades de cinco Estados brasileiros. Em agosto e novembro, volta ao Rio de Janeiro para temporadas na Universidade Federal de Niterói e no Teatro Cândido Mendes, respectivamente. Solo de Marajó tem direção de Alberto Silva Neto, dramaturgia de Alberto Silva Neto, Claudio Barros e Carlos Correia Santos, iluminação de Iara Regina de Souza, fotos de JM Conduru e produção de Sandra Conduru.
A encenação é ousada ao assumir o palco nu para valorizar o papel do ator como contador de histórias. Mas é justamente esta escolha que potencializa a força da prosa dalcidiana. Em cena, a palavra é colocada sobre uma detalhada partitura corporal, fruto de pesquisa sobre as histórias de vida do ator e a partir da observação do corpo de pessoas que habitam o ambiente da vida rústica na Amazônia, o mesmo sobre o qual a obra se funda.
Os temas das narrativas vão desde questões de cunho social, como racismo, exploração do trabalho, tráfico de crianças e prostituição, até o universo íntimo das relações amorosas, recheadas de paixão, dor, solidão, ciúme e vingança. Esta visão multifacetada do autor levou os criadores a uma dramaturgia que não se preocupa em dar conta da fábula romanesca, mas acaba por construir um mosaico capaz de representar as relações humanas na Amazônia.
Criado em 2009, o espetáculo marca a primeira incursão do encenador Alberto Silva Neto no universo da literatura dalcidiana pensada para a cena. Mas já no ano seguinte, premiada pela Funarte, a Usina realizaria, também sob sua direção, a montagem Eutanázio e o princípio do mundo, desta vez inspirada em Chove nos campos de Cachoeira - primeiro romance de Dalcídio, publicado em 1941, depois de conquistar o primeiro lugar no concurso literário nacional promovido no Rio de Janeiro pelo Jornal Dom Casmurro e pela Editora Vecchi.
Solo de Marajó chegou ao Rio em janeiro de 2015, depois de diversas temporadas em Belém nos últimos seis anos, além de uma turnê por cinco cidades da Ilha de Marajó, em 2012, e duas apresentações em São Paulo (a primeira em 2010, em mostra da cena paraense contemporânea promovida pela Cia Pessoal do Faroeste, dirigida pelo dramaturgo e encenador paraense Paulo Faria, e a segunda no ano passado, durante a programação da Virada Cultural de SP).
A partir de junho, o espetáculo inicia a turnê nacional Solo de Marajó nos solos de outros brasis, agraciada pela Funarte com o prêmio Myriam Muniz, quando circulará por dez cidades de cinco estados brasileiros diferentes, que foram berço de outros grandes romancistas brasileiros: o Rio Grande do Sul de Érico Veríssimo, o Ceará de Raquel de Queiroz, as Alagoas de José Lins do Rego, a Paraíba de Graciliano Ramos e a Bahia de Jorge Amado. Em novembro, volta ao Rio para uma temporada de quatro semanas (sempre às quartas e quintas) no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema. Solo de Marajó tem ainda dramaturgia de Alberto Silva Neto, Claudio Barros e Carlos Santos, iluminação de Iara Regina de Souza, fotos de JM Conduru e produção de Sandra Conduru.
Claudio Barros, 51 anos, começou no teatro em 1976 e passou por grupos importantes na cena contemporânea local como Experiência (onde integrou o elenco original de Ver de Ver-o-Peso, famosa ópera cabocla, há mais de 30 anos em cartaz), além de Cena Aberta e Cuíra do Pará, do qual é um dos fundadores. Desde 2009, integra o núcleo de criação da Usina Contemporânea de Teatro, atuando em Solo de Marajó.
Alberto Silva Neto, 45 anos, começou no teatro em 1987. É ator, encenador e professor da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA). Nos últimos dez anos, dirige as criações da Usina Contemporânea de Teatro, com ênfase numa cena que explora uma poética amazônica inspirada nos modos de vida do povo caboclo a partir da figura do ator como contador de histórias.
Serviço
Espetáculo teatral Solo de Marajó, da Usina Contemporânea de Teatro. Com Claudio Barros. Direção: Alberto Silva Neto. Dias 10, 11, 17, 18, 24 e 25 de junho (quartas e quintas), sempre às 20 horas, no auditório da Fibra (Gentil Bittencourt entre Generalíssimo Deodoro e 14 de Março). O público decide o quanto pode pagar. Duração: 55 minutos.
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