DETENTOS VISITAM A FEIRA PAN E CONHECEM A CULTURA MILENAR JAPONESA


Um universo completamente novo e cheio de inspirações foi apresentado a um grupo de 9 detentos do regime semiaberto, custodiados pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), nesta quinta-feira (04). Pela primeira vez eles visitaram a Feira Pan-Amazônica do Livro, realizada no Hangar, em Belém, e puderam circular entre os estandes, conhecendo diversos temas e culturas impressas em alguns dos mais de 100 mil exemplares disponíveis no evento que homenageia o Japão e comemora os 120 anos do Tratado da Amizade com o Brasil.
Em 2015, a Feira traz como tema “A certeza milenar de quem sabe vencer os desafios”. E foi com sabedoria que, aos 45 anos, João Carlos Ferreira da Silva, analisou cada detalhe dos livros que tirou das prateleiras na Feira. “Tudo isso aqui é novo pra mim. Estou aproveitando para olhar livros diferentes. Depois que cumpri parte da minha pena voltei a estudar. Estar aqui faz parte da minha trajetória em busca liberdade”, disse o interno que a 1 ano e quatro meses cumpre pena no Centro de Progressão Penitenciária de Belém (CPPB).
João foi condenado a 10 anos de prisão e hoje está no 3º ano do Ensino Médio. Desde que retomou os estudos, ele teve a atenção voltada para uma disciplina: a Filosofia. “Com ela aprendi a enxergar novos horizontes e entendi a importância das leis para a vida em sociedade”, contou. Para o interno essa nova perspectiva dá um valor especial para a visita à Feira. “Vejo o quanto podemos aprender em lugares como esse. Saio daqui com uma sensação muito boa por ter tido essa oportunidade, já que antes, mesmo livre, eu nunca me interessei”, completou.
Exemplos como o de João são diariamente identificados dentro do Sistema Penitenciário, é o que revela Jaqueline de Souza, pedagoga do Centro de Recuperação Feminino (CRF). “Dentro das casas penais nós temos histórias de muitas pessoas que só voltaram ou começaram a estudar porque só ali tiveram essa oportunidade”, diz. Para ela, a visita à Feira faz parte do papel social que a Educação tem na vida dos internos. “Nós trabalhamos com isso e a vinda deste grupo a um evento cultural desse porte faz valer o papel de ressocialização”, afirma a pedagoga.
Oportunidade – Além de visitar os estandes de livros, cinco internas do CRF participaram da “Oficina Promoção de Leitura”, ministrada pelo escritor Maurício Leite, o “homem da mala azul”. Atentas a cada detalhe dos diferentes livros exibidos pelo escritor, as internas conheceram diferentes mundos que a leitura pode apresentar. “É muito gratificante poder proporcionar estas oportunidades para pessoas que, quando chegam até nós, já não estão com nenhuma perspectiva”, disse a pedagoga Jaqueline. Curiosas pelo novo, as internas também aproveitaram para apreciar detalhes da cultura japonesa no estande que apresentava as tradições do país ao público.
Carina Beckman, 35 anos, recentemente concluiu o Ensino Médio frequentando as aulas ofertadas dentro do CRF. Ela faz parte de uma turma, formada por 8 mulheres, que está prestes a realizar uma cerimônia de colação de grau. Tomada pela expectativa do grande dia na Feira ela aproveitou para consultar livros que não fazem parte da rotina de estudos. “Essa visita está sendo muito agradável. É muito bom poder ter acesso a essas opções que não chegam pra gente dentro da cadeia. Vi vários livros religiosos que já tinha ouvido falar e que chamaram muito a minha atenção”, contou.
Atualmente, mais de 1.200 internos custodiados pela Susipe estão envolvidos com atividades educacionais. Nas penitenciárias, além do ensino regular, são ofertadas oportunidades como cursos de música e dança, além de cursos profissionalizantes. No total, 27 das 41 unidades prisionais do Estado contam com salas de aula e mais de 17 mil livros são disponibilizados através do projeto Arca da Leitura.
Texto: Lali Mareco
Foto: Thiago Gomes
Ascom – Feira do Livro