CULTURA E LITERATURA AMAZÔNICAS SÃO TEMAS DE SEMINÁRIO NA FEIRA PAN


A linguagem é um rio que corre e nela estão contidas todas as possibilidades do encantamento. Sob esse mote, o seminário “Amazônias, Arquipélagos de literaturas, Memórias e Culturas” trouxe um pouco da paisagem literária, cultural e social da região nesta terça-feira (02), na programação da XIX Feira Pan-Amazônica do Livro.
O poeta e professor, João de Jesus Paes Loureiro, na mesa “Literatura das águas e das encantarias”, contou como o cenário natural da Amazônia e suas relações culturais construíram a memória e o imaginário do homem que vive a região. Para ele, esse processo também interfere na produção artística e literária local.
“A paisagem da Amazônia é flúvio-florestal e nossos rios são semelhantes aos rios de outras partes do mundo geograficamente, com leitos e margens, das quais tentam se libertar, por isso correm. Diferenciam-se, porém, na paisagem cultural construída socialmente pelas populações tradicionais e também na paisagem afetiva e psicológica, por suas relações cotidianas com o rio”, explica o poeta.
Na Amazônia, o rio é o grande fio que costura o imaginário e a vida cotidiana das populações que habitam próximas às águas. Em relação às narrativas desses lugares, Paes Loureiro diz que é do fundo do rio que vem as encantarias, produtos do imaginário que poetizam este rio. “Da mesma forma que as encantarias saltam dos rios, a poesia é a encantaria da linguagem e a arte, a encantaria própria da linguagem de cada uma”, destaca.
O pesquisador em cultura amazônica, Jerônimo da Silva, disse que a mistura de povos, as culturas indígena e negra na Amazônia foram construindo uma narrativa tradicional dos povos de rios e florestas, onde estão presentes as encantarias. “O que é folclore para as demais pessoas, para os povos tradicionais há uma relação física e espiritual forte com as entidades que estão presentes no cotidiano deles. O papel das encantarias é essencial em todos os ritos da vida dessas pessoas”, explica.
Para Jerônimo o que torna mais difícil a compreensão dessas encantarias, é que não há uma preocupação com saber dos povos tradicionais. “o discurso dos povos que vivem as encantarias são baseados em um conhecimento tradicional importante, porque mostram a relação dessas pessoas com esta realidade”, ressalta.
O jovem escritor paraense, Maurício Coelho, trouxe um pouco da sua experiência com a literatura fantástica regional. Maurício é autor da antologia de contos “Fogo Fato”, lançado no ano passado. Para o escritor, o homem da Amazônia tem uma relação vital, cultural e social com a água, da chuva e do rio. “São das águas que surge muito do imaginário da humanidade desde a antiguidade. E as entidades encantadas, originadas nesse imaginário, não morrem, elas se transformam em mitologias ou forças da natureza”, acrescenta.
Já na mesa “Os Marajós na Literatura”, a professora Amarilis Tupiassu disse que a literatura feita na Amazônia ainda é pouco conhecida, estando restrita a alguns lugares específicos como as universidades. “as obras da região são vastas, mas a disponibilidade de algumas delas é pequena, como as obras de Haroldo Maranhão e até mesmo de Dalcídio Jurandir”, relata.
Na ocasião, o escritor marajoara, Ailton Favacho, leu trechos do seu livro “Casa de Barro”, uma produção feita em prosa e verso, onde é possível encontrar aspectos da cultura tradicional dos povos do arquipélago do Marajó, o encanto da natureza local e também a dureza do homem que vive na região.
Texto: Vitor Barros
Foto: Alberto Bitar
Ascom – Feira do Livro