“Cartas” de James Joyce são reunidas
James Joyce (1882- 1941) estava em Paris, no dia 27 de junho de 1924, quando escreveu uma de suas inúmeras cartas a Harriet Weaver (1876-1961), sua benfeitora. Fazia 17 dias que ele tinha feito uma cirurgia no olho, a que ele se referiu como: “Mais desagradável do que eu esperava”. Mas mais importante do que suas reclamações acerca da saúde, uma constante em seus escritos, lemos, nesta carta, a primeira referência ao Bloomsday, celebrado anualmente no mundo todo em 16 de junho, dia em que o escritor irlandês situa sua obra-prima, Ulysses (1922). Ele escreve: “Há um grupo de pessoas que celebram aquilo que eles chamam de Bloom’s day - 16 de junho. Eles me enviaram hortênsias, brancas e azuis, tingidas. Tenho de convencer a mim mesmo que escrevi esse livro. Eu era capaz de falar com inteligência sobre ele. Se por acaso agora tento explicar às pessoas o que supostamente estou escrevendo eu vejo o assombro reduzi-las ao silêncio”. Este fragmento está em um dos textos - extensos e econômicos em vírgulas - que integrarão Cartas à Minha Benfeitora (título provisório), organizado e traduzido por Dirce Waltrick do Amarante e por Sérgio Medeiros, e que a Iluminuras pretende lançar no último trimestre.
A quem pensa que esse fetiche todo poderia incomodar o autor, Dirce responde que ele, surpreso com a recepção da obra, ficou feliz com o Bloomsday. “Ele coloca na carta que foi um alívio, depois daqueles problemas de vista que ele teve, saber dessa festa, mas meio que dá uma reclamadinha dizendo que o próximo, o Finnegans Wake, não atingiria tantas pessoas assim”, conta Dirce, que prepara, ainda, um volume de ensaios sobre Joyce e seu universo.
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