Folia de Vigia em exposição
É durante o carnaval que a cidade de Vigia, no Nordeste paraense, recebe o maior número de turistas no ano. Mas, além da folia, a cidade histórica do interior paraense tem outros grandes atrativos. Para quem quiser ver outro viés da festa momesca, uma boa opção é Museu Histórico Barão do Guajará, onde estão expostas as obras do pintor vigilengo Antonio Coutinho, na mostra “Paixão de Vigia”. A série tem 17 quadros de fases distintas do artista, que usou o carnaval, da década de 70 até hoje, como fonte de inspiração. A visitação é gratuita e a exposição ficará em cartaz até o dia 30 de março.
A pintura é um hábito que Antonio Coutinho, de 57 anos, herdou do pai, Manoel Leal, também pintor. Ele conta que com 11 anos acompanhava Leal, e aos 15 finalizou sua primeira tela, intitulada “Jovem com cesto de frutas”. Coutinho moldou sua técnica com o decorrer do tempo, flertando com estilos diversos de pinturas. Entre os impressionistas, se inspirava no traço do francês Pierre Auguste Renoir. Produziu obras de estilos surrealista e cubista, mas foi no neoclassicismo e romantismo do espanhol Francisco de Goya que encontrou sua principal referência. “Existem detalhes das minhas pinturas que se assemelham com as de Goya, principalmente no colorido”, diz coutinho, procurando resguardar as proporções.
Logo a arte de Coutinho começou a ganhar comentários fora de sua cidade natal. Hoje ele acumula passagem por exposições coletivas e individuais no Pará, no Brasil e em outros países. Conta com dois prêmios na Europa - onde chegou a expor no Carrossel do renomado museu do Louvre, em 2011. A obra em questão, um óleo sobre tela, se chama “Contemplação”, e faz parte da série “Paixão da Vigia”. Ganhou um prêmio em Nova York-EUA, após participar de intercâmbios culturais, e soma participações em salões como Arte Pará, além de exposições em Belém, em locais como o Parque da Residência. Na cidade natal, esta é sua sexta exposição individual.
TRADIÇÃO
A cidade de Vigia tem sido um tema recorrente na obra de Coutinho, que faz questão de ressaltar seu apego e carinho pelo local onde nasceu e vive até hoje. “Desde a infância eu admiro muito a cultura da minha cidade. É uma cidade antiga, que conserva bastante suas tradições. Sejam elas religiosas, folclóricas, carnavalescas. Tudo isso fez com que eu criasse uma sensibilidade em relação à Vigia, que me inspirasse nessas temáticas. Considero o cotidiano da região interessante, a vida simples, dos pescadores”, diz Antonio, que já escolheu a próxima homenagem. “Já penso em mais uma série homenageando Vigia, que vai completar 400 anos. Vamos fazer uma festa bonita na cidade e pretendo mostrar a história do município, suas lendas e curiosidades”, conta. Vigia completará 400 anos no dia 6 de janeiro de 2016, seis dias antes de Belém chegar à mesma marca histórica.
A exposição que agora ocupa o Museu Histórico Barão do Guajará lança um olhar panorâmico sobre o carnaval de Vigia. São 17 telas, cujos períodos de produção passam pelas décadas de 70, 80, 90 e vão até os dias atuais. As últimas obras foram concluídas por Coutinho no mês de novembro do ano passado, o que torna a exposição rica para análise tanto das mudanças culturais da cidade como do amadurecimento do trabalho de Coutinho. “Hoje pinto no estilo acadêmico. Nas telas é possível ver estilos diferentes. Assim como se vê diferenças no carnaval da cidade. As máscaras e fantasias, por exemplo, hoje são todas mais modernas”, destaca.
O trabalho de Antonio Coutinho, porém, não se limita às telas. Sua experiência em retratar temas religiosos o credenciou à pintura de murais em igrejas ao redor do Brasil. Seus últimos trabalhos do gênero foram feitos em paróquias de cidades do interior de São Paulo, como Santa Bárbara D’Oeste, Cordeirópolis e Rio Claro. “As diferenças entre os murais e as telas são inúmeras. Pintar murais exige muito cuidado. Geralmente as pinturas são feitas diretamente na parede, mas às vezes no teto e no forro também. As proporções exigem atenção, porque as figuras são muito maiores. Fora que esse tipo de trabalho é feito em andaime, o que é muito diferente do conforto de sentar de frente para um cavalete. E uma coisa primordial é conseguir transmitir detalhes de forma que fiquem visíveis para quem olha de longe, já que, diferente de uma tela, esta é uma obra que se contempla com um pouco mais de distância”, conclui.
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