Mensagem da Semana
A grama mais verde
Dizem que a grama do vizinho é sempre mais
verde. Mas olhe-a de perto e você verá falhas, partes onde a grama não cresce
nunca ou cresce rápido demais e formigueiros escondidos. Em algum momento de
nossas vidas (quem sabe da evolução humana), fomos programados para prestar
atenção no jardim do vizinho, no carro do chefe e no novo namorado da fulana que recém se separou. E não
apenas “prestamos atenção”, interagimos quase como se fosse um reality show.
Apresentamos traços assim desde a infância, quando levamos um boneco Man Steel
que acende, atira, anda e come sozinho, mas queremos o soldadinho de plástico
do nosso amiguinho. A partir daí, a “síndrome do brinquedo alheio” nunca mais
nos abandona. Trocam-se os brinquedos por outros, digamos mais adultos, mas a
vontade de ter o que o outro tem continua.
O ser humano tem um grande problema de
apreciar o que o outro tem. Ao menos em parte, isso se explica porque todos nós
temos sede por coisas novas. Para alguns felizardos, essa novidade vem em forma
de conhecimento, habilidades, livros, viagens e culturas diferentes. Para
outros — a maioria — são produtos eletrônicos, bolsas, carros, parceiros
diferentes e por aí vai. Felizmente, temos a liberdade para guiar a vida como
bem entendemos e cada um pode escolher fazer o que o deixa mais feliz. O
problema é quando é quando isso não deixa, e os momentos felizes são com base
em outras pessoas que não você. Quando se olha demais para o jardim do outro
sem perceber que a sua grama está na altura do joelho.
Quando a felicidade está em coisas e
não em experiências e crescimento, é porque estamos olhando mais para o outro
do que para nós mesmos. As pessoas desejam carros de luxo não pelo conforto e
potência (qualidade), mas, pelo estilo de vida (marca e valores) associado a eles. Em outras palavras, as pessoas
querem ter aquela vida.Quanto mais pessoas estão consumindo algo, mais
pessoas irão querer esse algo. Essa é a base do mundo capitalista e um
comportamento que muito vem sendo estudado depois que as redes sociais colocaram
os holofotes em mais de 1 bilhão de pessoas revelando seus hábitos e
comportamentos.
E o que era para aproximar pessoas, as
deixaram mais tristes, egocêntricas, e mesquinhas. A tecnologia tornou mais
fácil comparar e, ao comparar, elas percebem que tem sempre alguém
fazendo o que elas gostariam de fazer. Automaticamente, comparamos as nossas
vidas com as de ex-colegas, amigos de infância e parentes da mesma faixa etária
e se a diferença é muito grande, ficamos tristes ou orgulhosos.
Lembrei de um estudo em que as
pessoas mais felizes eram aquelas que tinham maior poder aquisitivo em seus
círculos sociais, não aquelas que ganhavam mais, porém menos se comparado com
os outros. É preciso lutar contra essa tendência natural. Porque sempre, sempre
irá existir alguém em uma posição melhor do que você a sua. Desejos não têm
fim. Compre uma casa e você irá querer outra na praia. Conquiste uma vida
financeira confortável e você irá querer ser milionário. Abra uma loja e você
logo sonhará com uma lucrativa rede de franquias. A vida é repleta de desafios
e desafios também costumam não ter fim. Essa é a parte boa: o ser humano
precisa dessa motivação para continuar vivendo. O problema está em viver as
motivações dos outros.
Somos tão influenciados pelo mundo que
vivemos que, não raro, pessoas deixam-se levar por essas influências — e o
pior, sem perceber. As pessoas vestem o que todo mundo veste e, se ninguém
veste, tem algo de errado aí. Faz sentido. O mesmo sentido que leva empresas a
operarem da mesma maneira, fazendo as mesmas coisas que todas as outras. Então,
uma resolve fugir da fila indiana e fazer algo diferente que dá certo, e todas
resolvem ir atrás. O mundo é uma grande fila indiana onde de tempos em tempos
alguém resolve sair da fila e fazer diferente.
Fazer diferente é para poucos. Para fazer
diferente é preciso parar de observar o jardim do vizinho. É preciso olhar
milhares de outros jardins em centenas de outros bairros do mundo, ler revistas
de jardinagem, fazer cursos, tentar e errar, e errar até acertar. Quem olha
demais para o brinquedo do colega jamais se contentará com o seu, mesmo que
superior, porque não se trata de qualidade, e sim de querer ter o inacessível.
Alguém uma vez disse que a grama é mais verde onde se rega. E só é possível
regar o que está ao nosso alcance. Aqui cabe um outro famoso ditado popular:
“não dê um passo maior que a perna” porque você sabe o que acontece.
Pense nisso e tenha uma semana pra lá de
alegre, produtiva e de muita paz
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