Romário desabafa sobre derrota do Brasil e fala em ‘revolta’ e ‘vergonha’
Verdades que precisam ser ditas
e escritas, cabendo a Romário a condição de poder esbravejar com críticas duras
aos dirigentes que só pensam em fortunas. (PV)
Romário
desabafou nas redes socais
Romário
desabafou nas redes socais Foto: Terceiro / Agência O Globo
Conhecido
pelas frases polêmicas, o ex-atacante e deputado federal Romário (PSB-RJ) não
economizou nas palavras para criticar a vexatória eliminação da seleção
brasileira da Copa do Mundo após a goleada por 7 a 1 sofrida para a Alemanha,
nesta terça-feira, no Mineirão. Após o apito final, o Baixinho esperou
aproximadamente 15 horas, um período de tempo ao qual chamou de “luto das
primeiras horas”, para esfriar a cabeça antes de desabafar não apenas a
respeito da eliminação da seleção brasieira em campo, mas também dos problemas
mostrados fora das quatro linhas.
Em um longo
texto publicado em sua conta oficial no Facebook, Romário, tetracampeão mundial
em 1994, falou em sentimentos como revolta e vergonha num “dia muito triste
para o futebol brasileiro”.
Confira a
publicação abaixo na íntegra:
“Galera,
passado o
luto das primeiras horas seguidas da derrota, vamos ao que verdadeiramente
interessa! Quem tem boa memória, vai lembrar da minha frase: Fora de campo, já
perdemos a Copa de goleada!
Infelizmente,
dentro de campo, não foi diferente.
Ontem foi um
dia muito triste para nosso futebol. Venceu o melhor e ninguém há de questionar
a superioridade do futebol alemão já há alguns anos. Ainda assim, o mundo
assistiu com perplexidade esta derrota, porque nem a Alemanha, no seu melhor
otimismo, deve ter imaginado essa vitória histórica.
Porém, se
puxarmos da memória, vamos lembrar que nossa seleção já não vinha apresentando
nosso melhor futebol há muito tempo. Jogamos muito mal. Infelizmente, levamos
sete e, por mais que isso cause mal-estar, devemos admitir que a chuva de gols
foi apenas reflexo do pânico, da incapacidade de reação dos nossos jogadores e
da falta de atitude do treinador de mudar o time.
Vivemos uma
crise no nosso esporte mais amado, chegamos ao auge dela. Acha que isso é
problema só dos jogadores ou do Felipão? Nem de longe.
Nosso
futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm
talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo
nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de
ladrões, corruptos e quadrilheiros!
O meu
sentimento é de revolta.
Estou há
quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira
de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor
de mercado, usando nosso hino, nossa bandeira, nossas cores e, o mais
importante, nosso material humano, nossos jogadores. Porque não se iludam,
futebol é negócio, business, entretenimento e move rios de dinheiro. Nunca tive
o apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo
Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do
Governo Federal no nosso futebol.
Em 2012, eu
apresentei um pedido de CPI da CBF, baseado em um série de escândalos
envolvendo a entidade, como o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção,
evasão de divisas, lavagem de dinheiro e desvio de verba do patrocínio da
empresa área TAM. O pedido está parado em alguma gaveta em Brasília há dois
anos. Em questionamento ao presidente da Câmara dos Deputados, sr. Henrique
Eduardo Alves, mas ouvi como resposta que este não era o melhor momento para se
instalar esta CPI. Não concordei, mas respeitei a decisão. E agora, presidente,
está na hora?
Exceto por
um vexame como o de ontem, o Brasil não precisaria se envergonhar de uma
derrota em campo, afinal, derrotas fazem parte do esporte. Mas vergonha mesmo
devemos sentir de ter uma das gestões de futebol mais corruptas do mundo. A
arrogância dessa entidade é tão grande que até o chefe da assessoria de
imprensa chega ao absurdo de bater em um atleta de outra seleção, como fez o
Rodrigo Paiva contra um jogador do Chile Pinilla. Paiva pegou quatro jogos de
suspensão e foi proibido de acessar o vestiário dos jogadores. Este ato foi
muito simbólico e diz muito sobre eles. O presidente da entidade, José Maria
Marin, é ladrão de medalha, de energia, de terreno público e apoiador da
ditadura. Marco Polo Del Nero, seu atual vice, recentemente foi detido,
investigado e indiciado pela Polícia Federal por possíveis crimes contra o
sistema financeiro, corrupção e formação de quadrilha. São esses que comandam o
nosso futebol. Querem vergonha maior que essa?
Marin e Del
Nero tinham que estar era na cadeia! Bando de vagabundos!!!
A corrupção
da CBF tem raízes em todos os clubes brasileiros, vale lembrar que são as
federações e clubes que elegem há anos o mesmo grupo de cartolas, com os mesmos
métodos de gestão arcaicos e corruptos implementados por João Havelange e
Ricardo Teixeira e mantidos por Marin e Del Nero. Vale lembrar, que estes dois
últimos mudaram o estatuto da entidade e anteciparam a eleição da CBF para
antes da Copa. Já prevendo uma possível derrota e a dificuldade que eles teriam
de se manter no poder com um quadro desfavorável.
E os clubes?
Sim, eles também são responsáveis por essa crise. Gestões fraudulentas, falta
de investimento na base, na formação de atletas. Grandes clubes brasileiros
estão falindo afogados em dívidas bilionárias com bancos e não pagamentos de
impostos como INSS, FGTS e Receita Federal.
E toda essa
má gestão que tem destruído o nosso futebol, infelizmente, tem sido respaldada
há anos pelo Congresso Nacional com anistias e mais anistia destes débitos.
Este ano tivemos mais um projeto desses vexatórios para salvar os clubes. Um
projeto que previa que clubes pagassem apenas 10% de suas dívidas e investissem
90% restante em formação de atletas. Parece até deboche. Uma soma de
aproximadamente R$ 4 bilhões ou muito mais, não se sabe ao certo.
Corajosamente, o deputado Otávio Leite, reconstruiu o texto e apresentou uma
proposta honesta estruturada em responsabilidade fiscal, parcelamento de
dívidas e a criação de um fundo de iniciação esportiva, com obrigações claras
para clubes e CBF.
Em resumo, a
nova proposta além de constituir a Seleção Brasileira de Futebol e o Futebol
Brasileiro como Patrimônio Cultural Imaterial – obrigava a CBF a contribuir com
alíquota de 5% sobre as receitas de comercialização de produtos e serviços
proveniente da atividade de Representação do Futebol Brasileiro nos âmbitos
nacional e internacional. O tributo também incidiria sobre patrocínio, venda de
direitos de transmissão de imagens dos jogos da seleção brasileira, vendas de
apresentação em amistosos ou torneios para terceiros, bilheterias das partidas
amistosas e royalties sobre produtos licenciados. O valor seria destinado a um
fundo de iniciação esportiva para crianças e jovens de todo o Brasil. Esses e
outros artigos dariam responsabilidade à CBF, punição à entidades e outros gestores
do futebol, a CBF estaria sujeita a fiscalização do TCU e obrigada a ter
participação de um conselho de atletas nas decisões.
Mas este
texto infelizmente não foi para a frente. Sete deputados alemães fizeram os
gols que desclassificaram nosso futebol e nos tirou a chance de moralizar nosso
esporte. Estes deputados, como todos sabem, fazem parte da Bancada da CBF,
mudei o nome porque Bancada da Bola é muito pejorativo para algo que amamos
tanto. Gosto de dar os nomes: Rodrigo Maia (DEM -RJ), Guilherme Campos
(PSD-SP), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), José Rocha (PR-BA) , Vicente Cândido
(PT-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Valdivino de Oliveira (PSDB-GO).
Essa partida
ainda pode ser revertida com a votação do projeto no Plenário da Câmara. Será
que esses sete deputados voltarão a prejudicar o nosso futebol?
O futebol
brasileiro tomou uma goleada e a derrota retumbante, infelizmente, não foi só
em campo. Nem sequer tivemos o prazer de jogar no Maracanã, um templo do
futebol mundial, reformado ao custo de mais de R$ 1 bilhão. Acha que foi porque
não chegamos a final? Não. Poderíamos ter jogado qualquer outro jogo lá. A
resposta disso é ganância e arrogância. É a CBF que escolhe onde o Brasil vai
jogar, mas, obviamente, poderia ter tido interferência do Ministério do Esporte
e da presidência da República, mas nenhum destes se manifestou. Quem levou com
essas escolhas?
Para fechar
com chave de ouro, a CBF expulsou do vestiário Cafú, capitão de seleção do
pentacampeaonato. Cafú foi expulso do vestiário enquanto cumprimentava os
jogadores ontem. Este é o retrato do nosso futebol hoje, não honramos a nossa
história.
Dilma tem
sim que entregar a taça para outra seleção. Este gesto será o retrato do valor
que ela deu ao nosso futebol nos últimos anos! Eles levarão a taça e nós
ficaremos com nossos estádios superfaturados e nenhum legado material, porque
imaterial, mostramos para o mundo que com toda nossa dificuldade, somos um povo
feliz.
Essa será a
taça da vergonha.”
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