Fala, PMDB! - Arnaldo Jabor
Dizem que a verdade quando
explicitada provoca dor insuportável e nesse texto do Jabor, ele se faz de
aliado e depois dá a cartada decisiva mexendo com as raízes de dois partidos
que comandam ou tentam comandar o Brasil. O arrocho de Jabor é compartilhado por
mim que também combato a corrupção, mas sou apenas um pingo d’água no oceano
como se diz na gíria popular. A indignação de muitos brasileiros é premente e
eu me incluo no time dos descontentes. O texto é rico em adjetivos e verbetes e
vale a pena ser lido. (Paulo Vasconcellos)
O PMDB é a
salvação da democracia; suja, mas muito nossa
“Sem nós, a presidenta não faz nada!
Não pensem vocês que estamos de brincadeira. Esses soviéticos não aprendem...
Tentaram enrolar o PTB, logo com quem? — o ‘cobra criada’ Jefferson que os
botou para correr. Sei que o plano da presidente(a) é combater nosso excesso de
poder. Não adianta; em nosso ‘blocão’, além dos ‘nanicos’ nós temos os grandes
mestres, os faixas pretas do país: Sarney, o eterno, a fênix Renan, e agora o
implacável Eduardo Cunha, tantos... Estamos no Executivo sim, mas o comandante
Temer não sacia nossa fome. E o Temer é o tipo de vice que ‘não aporrinha’, mas
nós aporrinharemos, sim.
Esses comunas pensam que a gente é
babaca. Temos séculos de aprendizado. O PMDB é uma das mais belas florações de
nossa história. Temos interesses, claro. Queremos cargos e ministérios
importantes porque sem nós não tem comuna que se dê bem. Não é assim que essa
tigrada do PT fala: ‘os fins justificam os meios’? Pois é, nós somos os meios.
No entanto, os fins são deformados
pelos meios e de ‘meios’ acabaremos sendo ‘fins’. Sentiram a profundidade do
PMDB? Não há casamento sem interesse. É belo e progressista o interesse. O
desprendimento, a honestidade alardeada são hipocrisia de teóricos. Já foi o
tempo em que o PT nos dominava, debaixo de destemperos e esculachos da
presidenta. Vocês acham que vamos sair em campanha para reeleger essa mulher
antipática, brizolista? Vamos é defender a democracia com nossos métodos
tradicionais em que a vaselina e o ‘toma lá dá cá’ sempre levaram o país para a
frente.
O Eduardo Cunha, que era o ‘coisa
ruim’, virou ‘coisa linda’, pois ele é um técnico, um expert tenaz em acochambramentos
e perfídias brasilienses. Antes, nossas revoltas eram desorganizadas, sem rumo.
Edu nos devolveu o orgulho e consolidou um projeto de militância.
E nossos fins são frutos de uma grande
tradição brasileira que os maldosos chamam de ‘corrupção’, quando são hábitos
incrustados em nossa vida como a cana, o forró, nossos bigodes que chamam de
bregas, as ancas das amantes risonhas com ouro tilintando em pescoços e pulsos,
diante da palidez infeliz de nossas esposas.
Vocês não entendem que isso é a cara do
país? Vocês reclamam de nossa voracidade. E os milhares de glutões petistas —
mais de 100 mil — que invadiram o batatal do poder para comer tudo?
O PMDB é um exército de amigos unidos —
qual o mal? Admire a beleza superior deste patrimônio espiritual que nós
possuímos, tanto em nosso partido como nas alas aliadas.
E tem mais: nós do PMDB temos um
projeto sim para este país... Um projeto muito mais pragmático, mais
progressista que esse dogmas de 1917 do Dirceu e outros — abstrações ridículas
como ‘igualdade’, ‘controle social’ , ‘comitês centrais’, ‘palavras de ordem’.
Nosso projeto é mais Brasil. “São
coisas nossas, muito nossas...”, como cantou o Noel. Nosso projeto é uma
girândola de malandragens, de negociatas que deixam cair pelas brechas, pelas
frestas, fecundas migalhas de progresso. É isto: tudo que houve de bom no país
foi fruto de malandragens, do adultério entre o privado e o público.
Não, cara, não há corrupção no PMDB —
trata-se apenas da continuação de um processo histórico. O dinheiro que arrecadamos
em emendas do orçamento, em gorjetas justas de empresas e burocratas, esse
dinheiro sempre foi a mola do crescimento do país. Haveria Brasília sem ela?
Onde estaríamos nós? Na roça de um país agropastoril? Esta é a eterna verdade
desde a Colônia, tão eterna quando a miséria que sempre haverá. Querem o quê?
Que fiquemos magros também, que dividamos nossas conquistas com os que nada
têm? Quando eu faço uma piscina azul em meio à seca, não é crueldade, porque é
preciso que alguém tenha piscina na caatinga para que a dor dos miseráveis seja
suportável. A vida do pobre ganha um sentido hierárquico: ele está embaixo, mas
se consola porque alguém vive feliz em cima. Vamos olhar para a outra face da
beleza: a alegria de ver a grande arte dos lucros fabulosos, as mandíbulas
salivando a cada grande negócio fechado, o encanto dos shoppings de luxo, o
eufórico alarido dos restaurantes, os roncos de jet skis à beira-mar, a euforia
dos almoços de conchavos... Tudo isso doura o nosso progresso.
Portanto, não nos venham com papos de
inclusão social. É tudo lero-lero para enrolar o povão. O PT não gosta do povo,
não. O PT só gosta dele mesmo e de um poder imaginário no futuro que ninguém
sabe qual é. Não fizeram uma mísera reforma estrutural, só houve shows de Lula
na mídia e PACs irrelevantes. E nos chamam de ‘reacionários’; eles é que são.
Bolivarianismo caboclo não admitimos.
Jamais viraremos a Venezuela, como querem o Rui Falcão, que já está lá puxando
o saco do Maduro, e o Marco Aurélio Garcia, o último dos bolcheviques, para
quem ‘tudo vai bem na Venezuela’, apesar do exagero da ‘mídia conservadora’.
Nossa estratégia é mole, embuçada, insidiosa, mas muito eficaz.
A classe dominante deste país é uma
grande família, unida por laços de amizade total, mesmo que definhe sob nossos
pés a massa de escravos em seus escuros mundos.
Nós somos muito mais Brasil do que esse
bando de comunas que chegaram aí, com um sarapatel de ideias feitas por um
leninismo mal lido e um getulismo tardio. Querem nos colar a pecha de ladrões,
mas, por exemplo, quem comprou uma refinaria para a Petrobras no Texas por 1
bilhão e 200 milhões que não vale nem 100 milhões? Quem comprou? E o esquema da
Holanda? Quem está jogando bilhões (quanta propina...) em estádios? Eles
roubaram e roubam muito mais e a gente fica com a fama?
No entanto, sou otimista — acho sim que
a aliança PT-PMDB poderá ser doce e linda. Mas, do nosso jeito, pois na
infraestrutura de nosso passado de donatários ninguém toca.
O PMDB é a salvação da democracia;
suja, mas muito nossa.”
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/fala-pmdb-1-11905792#ixzz2wPnxlMAp
© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
Post a Comment