Artigo Especial - Por Lúcio Flávio Pinto
Dizem que a dor do parto é uma das mais agudas
que existem, por não mandar recado. Os moradores do Nordeste do Pará ainda
estão sentindo essa dor, por conta de um projeto utópico que sobrevoou por
aqui, confirmando a instalação da UFNORPA, antes em Capanema e depois em
Bragança. O artigo do Lúcio é real, quando ele cita que o fator “política”, tem
de estar atrelado às vontades dos políticos. Ficamos frustrados quando o MEC
definitivamente sepultou nossas esperanças e agora, a presidência da República
define e a Universidade do Sul e Sudeste
do Estado, que vai atender demandas educacionais, mas também alimentará sonhos
de políticos que daqui a poucos dias vão iniciar suas campanhas pedindo votos
naquela região, muitos deles intitulando-se como verdadeiros “pais da criança”.
(PV)
Universidade política?
No dia 28 o Pará passou a ter em seu território
três universidades federais. Além da UFPA de Belém, a mais antiga, implantada
em 1958, e da universidade do oeste do Estado, a Ufopa, de 2009, agora existe
legalmente a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, aprovada pelo
Senado na semana passada. O projeto de lei foi sancionado hoje, em Brasília,
pela presidente Dilma Rousseff.
A sede da nova universidade ficará
em Marabá, onde ficará a maioria dos seus 56 cursos (outros se espalharão por
três campi na região). O projeto, apresentado em 2011 e que teve tramitação
inusualmente rápida, criou 1.655 vagas, das quais apenas 1.101 de carreira. As
outras 554 são de livre designação ou aprovação pelo Ministério da Educação.
A carreira é formada por 506 cargos
de professor, 238 cargos técnico-administrativos de nível superior e outros 357
cargos técnico-administrativos de nível médio. Os cargos à parte são os de
reitor e vice-reitor, mais 90 de direção e nada menos do que 462 funções
gratificadas, constituindo o segundo maior contingente.
A criação da nova universidade
aconteceu exatamente em semana na qual dois fatos deviam servir de alerta e
estímulo para a reflexão sobre a multiplicação das escolas públicas de ensino
superior na Amazônia e, em particular, no Pará,, sob a justificação da
descentralização em busca de maior e melhor presença do ensino superior.
Na semana passada, pesquisa da QS
University, uma organização especializada dos Estados Unidos apontou as
universidades da Amazônia como das piores dentre 301 instituições de ensino
superior da América Latina que foram pesquisadas. A posição das universidades é
baseada na avaliação de sete critérios, entre impacto da instituição na
internet, quantidade de artigos publicados, reputação acadêmica e citações em
artigos. Como em toda classificação, os critérios são passíveis de crítica, mas
o ranking é uma forma de encarar a situação.
A poderosa Universidade Federal do
Pará, com seu orçamento de um bilhão de reais, 2,5 mil professores, 2,3 mil
servidores e 50 mil alunos (sete mil dos quais na pós-graduação), ficou em 124º
lugar na listagem, a melhor posição das unidades acadêmicas, seguida de perto
(em 127º lugar) pela federal de Mato Grosso, a do Maranhão (158), do Acre
(248), de Roraima (298), a estadual do Maranhão (297) e a nossa Uepa (em 294ª
posição). a penúltima das brasileiras.
O segundo fato foi a cassação do
mandato do deputado federal (do PT do Pará) Cláudio Puty. Ele liderou, no plano
político, a movimentação de bastidores para a criação da nova universidade do
sul e sudeste do Pará, abrigada precariamente por uma sigla (UFSSP) só mais
intragável do que a sua antecessora, a Ufopa.
A cassação foi decidida por maioria
de 4 a 1 pelo Tribunal Regional Eleitoral, motivada por abuso de poder e
conduta vedada nas eleições de 2010. O julgamento na instância estadual chegou
ao fim quase três anos depois da denúncia do Ministério Público Federal e a
pouco mais de um ano da próxima eleição, na qual Puty pretendia (e pode ainda
pretender) disputar um segundo mandato.
Ele foi o quarto mais votado (com
mais de 100 mil votos) em 2010, mesmo sendo neófito em política, com
antecedentes restritos à vida acadêmica. Foi o preferido da governadora petista
Ana Júlia Carepa, de cuja Casa Civil foi chefe antes de participar da eleição.
O episódio suscita um
questionamento: se a Secretaria de Meio Ambiente do Pará e o Ibama, realmente
se tornaram instrumentos de manipulação política (além de corrupção no
desempenho de suas tarefas específicas), a nova universidade não está exposta a
um risco, por sua origem, de aparelhamento político? Não pode se tornar,
também, à parte suas funções acadêmicas, num núcleo de apoio político
partidário?
Na busca por uma resposta
satisfatória e convincente, é preciso não esquecer que o professor Maurílio
Monteiro, que será o reitor da nova universidade, é irmão de Marcílio Monteiro,
o chefe do Ibama quando o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis serviu aos propósitos políticos do PT e suas extensões,
visíveis ou invisíveis.
Com essa motivação, acadêmicos,
políticos e demais interessados podiam, finalmente, acordar para essa nova
realidade em consolidação, a das universidades públicas espalhadas pelo vasto
território paraense. Vieram para melhorar as coisas ou para continuar a
subordiná-las a outros interesses que não a excelência do combalido ensino
universitário na Amazônia?
Fonte: Yahoo/Brasil
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