Sapucaí se rende à cultura paraense
Cultura, religiosidade,
história e a exuberância da natureza do Pará marcaram o desfile a Imperatriz
Leopoldinense na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. A escola foi a quinta a
entrar no sambódromo carioca, já na madrugada de ontem. Num desfile que
emocionou e levou um pouco do Estado para a avenida do samba, a Imperatriz
apostou no enredo "Pará - o Muiraquitã no Brasil". Agora a
expectativa é para a abertura dos envelopes com as notas atribuídas pelos
jurados às escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, que acontece
hoje.
As fantasias e alegorias da
escola da comunidade de Ramos mostraram ao público da Marquês de Sapucaí
elementos característicos da cultura paraense, como as cerâmicas marajoara, a
festa do Sairé, o Theatro da Paz e a maior representação de fé do Estado, o
Círio de Nazaré. Para contar o enredo, a Imperatriz levou para a avenida
personalidades paraenses. A cantora Fafá de Belém foi um dos maiores destaques
da escola de Ramos. Ela abriu o desfile fazendo parte da comissão de frente,
onde representava uma heroína levando a bandeira do Estado. No final do
desfile, reapareceu emocionada à frente da ala onde estavam representados os
devotos de Nossa Senhora de Nazaré que puxavam a corda na maior procissão
religiosa do país.
A cantora Leila Pinheiro, as
atrizes Dira Paes e Rosamaria Murtinho e os cantores Elymar Santos e Beto Barbosa
também marcaram presença no desfile da verde e branco. Musa do tecnobrega, Gaby
Amarantos apareceu em destaque no carro alegórico que representava o ritmo que
ajudou a levar para fora do Estado. A mesma alegoria tinha outro ícone da
cultura paraense, Pinduca. A cada ala, a cada alegoria, a escola se esforçou
para levar para o desfile algumas das principais representações do Pará e de
suas tradições. O mercado do Ver-o-Peso, que sintetiza muitas dessas tradições,
foi recriado em uma das alegorias com sua diversidade de especiarias e de
gente. A riqueza do período da borracha foi lembrada com uma ala que trazia os
barões da borracha em fantasias luxuosas e no carro que trazia um dos símbolos
mais conhecidos deste período, o Theatro da Paz. Uma réplica do teatro que
tomou quase todo o espaço do carro alegórico encantou pela beleza e
sofisticação.
O DESFILE
A escola levou para o
sambódromo 3.200 integrantes, em 31 alas, sete carros alegóricos e um tripé. O
carnavalesco Cahê Rodrigues, ao lado dos cenógrafos Mário Monteiro e Kaká
Monteiro, assinou o desfile da Imperatriz Leopoldinense. Segundo Cahê, detalhes
artesanais presentes nas alegorias enriqueceram a apresentação. "Nós temos
um carro com vasos de cerâmica marajoara pintados à mão, um por um. Foi um
carro bem trabalhoso", disse antes do desfile.
A bateria da Imperatriz
Leopoldinense foi comandada por Márcio de Souza Cesário, o mestre Noca, que
teve a companhia da rainha Cris Vianna. O samba enredo foi interpretado por
Dominguinhos do Estácio, um dos autores da canção que deu o primeiro título da
escola, em 1980, e Wander Pires, que recebeu o estandarte de ouro de 1996 com o
título da Mocidade. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira foi
formado por Phelipe Lemos, de 23 anos, e Rafaela Theodoro, de 20 anos, que pela
terceira vez consecutiva defendem o pavilhão da escola. Também falou da chegada
do homem branco às terras antes ocupadas apenas pelos nativos com o carro
"O karaíba encontra o místico solo sagrado", que teve a presença da
atriz Dira Paes como Iara mãe d’água para representar "a invasão do homem
branco e o espanto que eles têm com as lendas", segundo o carnavalesco
Cahê Rodrigues.
O desfile seguiu com o legado
que o ciclo do ouro e da borracha deixou para o Pará com uma réplica do Theatro
da Paz. Um efeito especial de luz no centro da alegoria revelou uma floresta
interna dentro do teatro. Na sequência, um carro alegórico representou o
tradicional mercado do Ver-o-Peso, trazendo muitas cores e produtos naturais
como camarão seco. O carro teve um pequeno problema, que gerou fumaça, e foi
acompanhado por bombeiros. Os ritmos e as danças do Pará foram lembrados no
carro "Pará Tecnoshow". A Imperatriz mostrou como a música paraense
invadiu o Brasil, destacando no centro da alegoria Gaby Amarantos. Ganhou
espaço também o treme, estilo de dança divulgada pela cantora, além de Beto Barbosa e Pinduca,
conhecido como rei do carimbó. A escola encerrou o desfile com uma romaria de
fiéis, seguidos do último carro, homenagem ao Círio de Nazaré. A cantora Fafá
de Belém chorou, emocionada, durante sua segunda passagem pela avenida.
Dira Paes falou emocionada.
"Minha fantasia representa a força que mora nas águas da paz. Venho
homenageando o meu povo. É um momento muito especial também por representar o
povo do Alemão, onde vive o meu personagem na novela", disse a atriz.
"Nunca vivi nada parecido na minha vida. Sempre tive o sonho de sair no
carnaval do Rio de Janeiro. É a realização de um sonho de menina. Sou um
carnaval ambulante", disse por sua vez Gaby Amarantos.
Fonte:G1/Pará
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