Barcarena prepara a sua Paixão
As semelhanças de Barcarena e
Capanema são bem próximas em relação a um espetáculo que simboliza a Paixão de
Cristo. Só que em Barcarena o evento continua sendo apresentado, ao contrário
de Capanema, cuja peça Paixão de Cristo, encenada pelos artistas do ELCAP durante
mais de 15 anos, faz parte da lista do esquecimento, sendo excluída do
calendário cultural do município, por razões alheias a importância que a
apresentação tinha no quesito valorização dos artistas locais. O Grupo se
desinteressou em continuar apresentando a peça e a gestão cultural também não
se esforçou para manter o maior espetáculo de teatro de arena da Região
Nordeste do Pará. Continuo com minha opinião de que “santo de casa, não faz
milagre”. (PV).
Espetáculo que mostra a morte e
a ressurreição de Jesus Cristo completa 33 anos e ganha pela primeira vez apoio
da prefeitura do município.
Após a folia do Carnaval, o
calendário aponta a chegada da Semana Santa, tradição religiosa católica que
celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Cristo. Ela se inicia no Domingo
de Ramos, que representa a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e termina no
Domingo de Páscoa. No município de Barcarena, localizado a 22 quilômetros de
Belém, já é tradicional a encenação da Paixão de Cristo, um produção do Grupo
Chama de Artes Cênicas, sob a direção de Arildo Poça. Há 33 anos ele produz e
dirige o espetáculo, que nos últimos 13 anos ganhou ares de superprodução,
reunindo 120 atores e 250 figurantes, com sessões para um público de até oito
mil pessoas.
Este ano a Paixão de Cristo
será encenada de 28 a 30 de março, no Cabana Clube, localizado na Vila dos
Cabanos, a nove quilômetros da sede do município. No estacionamento do clube,
uma área de dez mil metros quadrados, será instalada a cidade cenográfica, com
dez cenários que reproduzem pontos importantes da narrativa bíblica. Arildo
Poça explica que a estrutura do espetáculo é basicamente a mesma, mas a cada
ano a encenação ganha novas cenas e novos efeitos especiais. "Nunca
repetimos o mesmo espetáculo, e assim conseguimos manter o interesse do
público", diz ele.
O elenco reúne dezenas de
moradores de Barcarena, entre integrantes de outros grupos e pessoas sem
experiência em teatro. "Apesar de não serem atores profissionais, as
pessoas se empenham em encenar o espetáculo com grande dedicação. É preciso
vencer a timidez e acreditar no trabalho", observa o diretor,
acrescentando que este ano marca a estreia do ator Júnior Xavier, de Cametá, no
papel de Jesus Cristo. "Procurávamos um ator que, além das características
físicas, tivesse um perfil pessoal que se adequasse ao personagem. Precisava
ser alguém que tivesse formação religiosa e compreensão apurada da história de
Jesus". Nos últimos cinco anos o personagem foi interpretado pelo próprio
Arildo Poça.
TURISMO
Um dos principais eventos
culturais e religiosos de Barcarena, a Paixão de Cristo também tornou-se
atrativo turístico para o município. Pelo menos metade do público que comparece
todos os anos é de outras localidades. Para organizar o fluxo de visitantes, o
projeto fechou parcerias com seis agências de turismo em Belém, que oferecem
pacotes para Barcarena, e também criou uma agência oficial do evento, a
Lecytour, instalada dentro da Paratur. Arildo Poça destaca o apoio da
Secretaria de Estado de Turismo e diz que pela primeira vez o projeto também
terá apoio da administração municipal. O próximo passo é construir uma cidade
cenográfica permanente. "Já temos o terreno e vamos iniciar as obras em
breve", conta o diretor.
A ideia de encenar a Paixão de
Cristo em Barcarena surgiu no início da década de 80. Arildo Poça era um jovem
de 15 anos que participava ativamente das celebrações religiosas da Igreja
Católica. Certa vez, ao narrar as três horas da agonia – que relatam os últimos
momentos de Jesus crucificado – ele sentiu o desejo de dramatizar esta passagem
bíblica. "Eu já fazia teatro na escola desde os doze anos. Conversei com o
padre e ele me deu total apoio", recorda-se.
Em outubro de 1980 começaram os
ensaios do que viria a ser a primeira encenação do grupo. A estreia, em abril
do ano seguinte, foi um sucesso entre a comunidade. "Já no ano seguinte
nos mudamos para o salão paroquial, onde permanecemos durante 18 anos, até
mudarmos para o centro cultural", conta. Em 1985 surgiu o Grupo Chama de
Artes Cênicas, responsável pelo núcleo do elenco.
A cada ano aumentava o número
de pessoas interessadas em participar. Em meados da década de 90, surgiu a
ideia de transformar a encenação num grande espetáculo, reproduzindo as
estações da Paixão de Cristo, a exemplo do que é feito em Nova Jerusalém,
Pernambuco. A partir de 2002 o espetáculo passou a ser encenado ao ar livre.
Além de buscar a reprodução
fiel ao relato da Bíblia, Arildo Poça diz que é importante mostrar o contexto
da época. "Por isso criamos cenas que não estão na Bíblia, mas que ajudam
a contar um pouco desse período histórico. Convidamos o público a fazer uma
verdadeira viagem no tempo".
PREPARATIVOS
O ensaios são realizados até
hoje no salão paroquial da Igreja de São Francisco Xavier. Para dar conta de um
elenco gigantesco, Arildo Poça divide os ensaios em núcleos, de acordo com as
passagens bíblicas. Somente a quinze dias da estreia são realizados os ensaios
gerais, com todo mundo reunido. "É como montar um grande
quebra-cabeças", explica o diretor, acrescentando que atualmente a Paixão
de Cristo reúne pessoas de várias religiões. "O espetáculo tornou-se um
grande evento ecumênico".
Na opinião de Arildo Poça, o
interesse do público pela Paixão de Cristo se explica pela força dramática da
história, independentemente da formação religiosa de cada um. "É uma
história bonita e emocionante, que reflete um período marcante, em que o mundo
ocidental era dominado pelo Império Romano. Além disso, mesmo que Jesus não
fosse o filho de Deus, sua própria história nos traz um ensinamento muito
forte, pois ele morreu em nome de um ideal. Não por acaso Jesus foi um divisor
dentro da história da humanidade".
Fonte: O Liberal
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