De Mauro para Joelmir: Amor paternal e jornalístico
As declarações feitas
por Mauro Beting dedicadas a seu pai Joelmir, representam o amor duplo que ele
tem no coração, divididos entre a paternidade e o jornalismo. Em certa ocasião,
tive o prazer de assistir a uma palestra ministrada por Joelmir e daí em diante,
comecei a acompanhar ainda mais o seu trabalho. Ele foi exemplo de
profissional, apaixonado pelo o jornalismo e pelo o Palmeiras, coisas que nunca
escondeu de ninguém. Ao reproduzir o artigo de Mauro Beting, ofereço aos
leitores, texto completo de palavras verdadeiras de quem conviveu com o grande
mestre. Só para reforçar o registro: o título foi escolhido por mim, para
melhor interpretação do texto. (PV).
por Mauro Beting em
27.nov.2012 às 11:51h
Nunca falei com meu pai a
respeito depois que o Palmeiras foi rebaixado. Sei que ele soube. Ou imaginou.
Só sei que no primeiro domingo depois da queda para a Segunda pela segunda vez,
seu Joelmir teve um derrame antes de ver a primeira partida depois do rebaixamento.
Ele passou pela tomografia logo pela manhã. Em minutos o médico
(corintianíssimo) disse que outro gigante não conseguiria se reerguer mais.
No dia do retorno à segundona dos
infernos meu pai começou a ir para o céu. As chances de recuperação de uma
doença autoimune já não eram boas. Ficaram quase impossíveis com o que sangrou
o cérebro privilegiado. Irrigado e arejado como poucos dos muitos que o
conhecem e o reconhecem. Amado e querido pelos não poucos que tiveram o
privilégio de conhecê-lo.
Meu pai.
O melhor pai que um jornalista
pode ser. O melhor jornalista que um filho pode ter como pai.
Preciso dizer algo mais para o
melhor Babbo do mundo que virou o melhor Nonno do Universo?
Preciso. Mas não sei. Normalmente
ele sabia tudo. Quando não sabia, inventava com a mesma categoria com que
falava sobre o que sabia. Todo pai é assim para o filho. Mas um filho de
jornalista que também é jornalista fica ainda mais órfão. Nunca vi meu pai como
um super-herói. Apenas como um humano super. Só que jamais imaginei que ele
pudesse ficar doente e fraco de carne. Nunca admiti que nós pudéssemos perder
quem só nos fez ganhar.
Por isso sempre acreditei no meu
pai e no time dele. O nosso.
Ele me ensinou tantas coisas que
eu não sei. Uma que ficou é que nem todas as palavras precisam ser ditas. Devem
ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa não pensa no que fala. Quem sente o
que fala nem precisa dizer.
Mas hoje eu preciso agradecer
pelos meus 46 anos. Pelos 49 de amor da minha mãe. Pelos 75 dele.
Mais que tudo, pelo carinho das
pessoas que o conhecem – logo gostam dele. Especialmente pelas pessoas que não
o conhecem – e algumas choraram como se fosse um velho amigo.
Uma coisa aprendi com você,
Babbo. Antes de ser um grande jornalista é preciso ser uma grande pessoa. Com
ele aprendi que não tenho de trabalhar para ser um grande profissional. Preciso
tentar ser uma grande pessoa. Como você fez as duas coisas.
Desculpem, mas não vou chorar.
Choro por tudo. Por isso choro sempre pela família, Palmeiras, amores, dores,
cores, canções.
Mas não vou chorar por algo mais
que tudo que existe no meu mundo que são meus pais. Meus pais (que também
deveriam se chamar minhas mães) sempre foram presentes. Um regalo divino. Meu
pai nunca me faltou mesmo ausente de tanto que trabalhou. Ele nunca me falta
por que teve a mulher maravilhosa que é dona Lucila. Segundo seu Joelmir, a
segunda maior coisa da vida dele. Que a primeira sempre foi o amor que ele
sentiu por ela desde 1960. Quando se conheceram na rádio 9 de julho. Onde
fizeram família. Meu irmão e eu. Filhos do rádio.
Filhos de um jornalista econômico
pioneiro e respeitado, de um âncora de TV reconhecido e inovador, de um mestre
de comunicação brilhante e trabalhador.
Meu pai.
Eu sempre soube que jamais seria
no ofício algo nem perto do que ele foi. Por que raros foram tão bons na área
dele. Raríssimos foram tão bons pais como ele. Rarésimos foram tão bons
maridos. Rarissíssimos foram tão boas pessoas. E não existe outra palavra
inventada para falar quão raro e caro palmeirense ele foi.
(Mas sempre é bom lembrar que
palmeirenses não se comparam. Não são mais. Não são menos. São Palmeiras.
Basta).
Como ele um dia disse no anúncio
da nova arena, em 2007, como esteve escrito no vestiário do Palmeiras no
Palestra, de 2008 até a reforma: “Explicar a emoção de ser palmeirense, a um
palmeirense, é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… É
simplesmente impossível!”.
A ausência dele não tem nome. Mas
a presença dele ilumina de um modo que eu jamais vou saber descrever. Como jamais
saberei escrever o que ele é. Como todo pai de toda pessoa. Mais ainda quando é
um pai que sabia em 40 segundos descrever o que era o Brasil. E quase sempre
conseguia. Não vou ficar mais 40 frases tentando descrever o que pude sentir
por 46 anos.
Explicar quem é Joelmir Beting é
desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é
impossível.
Nonno, obrigado por amar a Nonna.
Nonna, obrigado por amar o Nonno.
Os filhos desse amor jamais serão
órfãos.
Como oficialmente eu soube agora,
1h15 desta quinta-feira, 29 de novembro. 32 anos e uma semana depois da morte
de meu Nonno, pai da minha guerreira Lucila.
Joelmir
José Beting foi encontrar o Pai da Bola Waldemar Fiume nesta quinta-feira,
0h55.
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