Uma vida dedicada a literatura e ao incentivo a leitura.




     José Ephim Mindlin ergueu um império literário em sua própria casa. Ele dedicou sua vida à busca por obras raras em viagens pelo Brasil e Exterior. A procura incansável acabou no domingo, dia 28 de fevereiro, quando o bibliófilo e empresário morreu em São Paulo, aos 95 anos.

     Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Mindlin estava internado havia aproximadamente um mês no Hospital Albert Einstein para tratar uma pneumonia. O enterro ocorreu no Cemitério Israelita da Vila Mariana, zona sul da cidade. Casado por 68 anos com Guita Mindlin, já falecida, teve quatro filhos: a antropologa Betty, a designer Diana, o engenheiro Sérgio e a socióloga Sônia.

     Nascido em São Paulo, em 8 de setembro de 1914, era filho de judeus nascidos em Odessa (Ucrânia), que vieram para o Brasil. Estudou Direito na Universidade de São Paulo (USP) e fez cursos de extensão universitária na Universidade de Columbia, em Nova York. Advogou até 1950, quando deixou a atividade para fundar a empresa Metal Leve SA, que se destacou no setor de peças para automóveis e hoje é controlada pela multinacional alemã Mahle. Permaneceu na companhia até 1996.

      Aos 32 anos, financiado por um empresário, conseguiu um sócio e fundou a livraria Parthenon, em São Paulo. Iniciou assim seu périplo em busca de obras raras para sua biblioteca particular.

Fonte: http://www.capitalgaucha.com.br/frameset/indexpersonagemsegunda.htm

José Mindlin começa a esvaziar biblioteca

     A gente passa, os livros ficam", as palavras do bibliófilo José Mindlin, 94, ecoam num dos compartimentos da imensa biblioteca que é sua casa, no Campo Belo, em São Paulo. Biblioteca esta que, até o final de 2009, deve ter suas estantes parcialmente esvaziadas. Nesta data, está previsto o início do transporte de cerca de 20 mil títulos, equivalentes a quase 45 mil volumes, entre coleções e folhetos, para o edifício da Brasiliana USP, no campus da universidade, em São Paulo.
A generosa doação de Mindlin, que incluirá obras sobre o Brasil que o ex-empresário vem colecionando desde os 13 anos de idade, porém, ainda depende de um compromisso firmado com a instituição. Se a USP não tiver concluído, até o fim do ano que vem, a construção de um edifício de 20 mil m2 em condições de armazenar a coleção, a doação será revogada.

19.set.09/Éder Medeiros/Folha Imagem

     José Mindlin, em sua residência, no bairro Campo Belo, mostra livros de sua biblioteca
Por conta disso, a universidade corre contra o relógio para viabilizar o projeto. Até agora, já foram reunidos cerca de R$ 26 milhões, em meio a doações diretas ou via leis de incentivo, além de um aporte da própria USP. Participam empresas como a Petrobras, o grupo Votorantim, a Telefônica, a CBMM (Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia, empresa do grupo Moreira Salles). De acordo com o coordenador do projeto, o professor István Jancksó, faltam ainda cerca de R$ 20       milhões a serem arrecadados para garantir o resultado da empreitada.
     O prédio que abrigará a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) já está sendo levantado entre os edifícios da Reitoria e os da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. O projeto foi desenvolvido pelos escritórios Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, com assessoria da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Como referências foram utilizadas a New York Public Library e a Biblioteca Nacional de Paris.
     O edifício também servirá como nova sede do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), criado em 1962 pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, e que contém entre seus mais de 140 mil títulos, obras de Mário de Andrade e Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, entre outros.
Entre as raridades de Mindlin que irão para a USP estão desde o primeiro livro em que o Brasil foi mencionado numa coletânea de viagens de Fracanzano da Montalbodo, de 1507, que noticia a viagem de Cabral, obras de história, periódicos, trabalhos científicos e didáticos, álbuns ilustrados, gravuras e edições valiosas de grandes obras da literatura nacional, muitas primeiras impressões e volumes autografados pelos próprios autores.
     Uma vez pronto o prédio e transportados os livros --o que está previsto para acontecer em meados de 2010-- o acesso a essas duas coleções será aberto e irrestrito. Mais sobre o que já foi feito e que vem por aí pode ser conferido no site www.brasiliana.usp.br.
Paralelamente, está em curso um processo de digitalização de obras raras, a Brasiliana Digital. Um piloto desta idéia já está no ar. Trata-se do dicionário "Vocabulario Portuguez & Latino", do padre Raphael Bluteau, do século 18, que pode ser consultado por meio do site do IEB (www.ieb.usp.br).
 
Visita do ministro
      Em visita à casa do bibliófilo, na última sexta-feira, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, disse que o personagem e sua história mereceriam um documentário. "O depoimento de quem lê é muito importante para suprir a carência de pais leitores no país", disse.
     Com relação ao tema, Ferreira também disse que sua gestão, iniciada oficialmente no fim de julho, pretende zerar o número de municípios brasileiros sem biblioteca (cerca de 600) e propor a recriação de um órgão apenas para cuidar do tema, como o extinto Instituto Nacional do Livro. O ministro diz que quer discutir o assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo encontro entre ambos.

 Fonte: SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo



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