CRÔNICA DA SEMANA – Por Hugo Antônio Ferrari

No Brasil, tem ocorrido, mas não como deveria, o interesse em se preservar os nossos patrimônios históricos.

Com isso, muitas preciosidades estão desaparecendo do mapa em função do abandono a que foram relegados.

A não preservação contribui para comprometer o nosso passado, influindo diretamente na história do País como um todo.

Não há cidade que não tenha perdido parte do seu acervo histórico. Outras - as duras penas - conseguiram preservar e reconstruir o pouco do que restou.

Além da falta de recursos suficientes para esse fim, a burocracia desestimula bastante a salvação desses verdadeiros tesouros que testemunharam a nossa trajetória.

A querida cidade de Óbidos já sentiu na pele esse abandono. Pouca coisa ainda foi recuperada - dentre elas - o antigo Forte Pauxis, o Quartel do Exército que sediou o 4º Grupo de Artilharia de Costa, e, por fim, o “Tiro-de-Guerra”. Atualmente, abriga a Casa da Cultura “José Veríssimo”.

Quanto aos canhões assentados no topo da “Serra da Escama”, todos continuam ao relento, depredados, onde suas peças móveis já foram retiradas e vendidas como sucata, depois da patriótica missão que tiveram no passado em defender a soberania da Amazônia.

O interesse pela preservação do patrimônio histórico precisa avançar, a fim de que não percamos em definitivo a nossa identidade, as nossas raízes.

Lembro agora do inesquecível Dom Floriano - o primeiro Prelado da Prelazia de Óbidos - que, ao ter participado em Roma do Concílio Vaticano II presidido pelo saudoso Papa João XXIII em 1961 e encerrado em 1965 pelo Papa Paulo VI, retornou empolgado de Roma e começou a fazer as reformas e mudanças que a Igreja Católica exigia naquele momento.

Demoliu totalmente o “Altar-Mor” da Catedral de Sant’Ana - verdadeira obra-prima -, trazendo um pouco mais para o centro da nave um altar isolado onde acontecem até hoje as celebrações, já que, antes do Concílio, as missas eram rezadas em latim, sem que o povo soubesse essa língua, além do celebrante que ficava de costas para os fiéis, passou a ficar de frente. Foram, sem dúvida, mudanças importantes introduzidas no âmbito do catolicismo.

Outro marco histórico de Óbidos é a Capela do Bom Jesus - erigida como promessa do povo obidense contra a invasão dos cabanos - sofreu uma profunda reforma na sua estrutura original, sendo posteriormente transformada num templo privado, ficando acoplada ao Seminário da Prelazia.

Suas paredes externas foram revestidas de “pastilhas”, dispensando pinturas, porém, descaracterizando-a.

Os antigos casarios da cidade estão comprometidos pelo abandono, enquanto outros sendo demolidos para dar lugar a novas construções, e, aos poucos, a nossa Óbidos de antigamente está desaparecendo.

Nada disso foi feito por maldade. Simplesmente, por não haver à época, o desejo de preservação que se tem hoje do patrimônio histórico, daí, muitos terem sido aniquilados pela devida falta de conservação.

Minas Gerais é um dos Estados que se sobressai bastante nesse particular, preservando suas cidades históricas, pois, foi lá que surgiu o movimento pela Independência do Brasil sob a liderança do mártir Tiradentes.

Nosso povo ainda não foi devidamente preparado - a exemplo de outros países - a preservar suas “relíquias” que se transformariam em fonte de renda garantida gerada pela indústria do turismo.

O Governo de Almir Gabriel conseguiu restaurar em Belém, com a ajuda do notável arquiteto Paulo Chaves, prédios e monumentos históricos da capital paraense.

Recentemente, a Catedral da Sé foi reinaugurada pela atual governadora Ana Júlia Carepa, mostrando a majestade daquele belo templo.

Já o meu amigo e conterrâneo, o engenheiro e escritor Ademar Ayres do Amaral, membro da Academia Artística e Literária de Óbidos, (AALO), levantou a hipótese de o novo Bispo de Óbidos, Dom Bernardo, em reabrir para o público - na sua originalidade - a Capela do Bom Jesus.

Não sabemos qual será o interesse da Prelazia em acatar ou não a sugestão ora apresentada.

Caso exista essa disposição, a engenharia moderna, por certo, se encarregaria de reconstruir, na íntegra, um dos marcos da “Cidade Presépio”. Seria a devolução de um bonito presente para os obidenses e que encantaria os visitantes.

Com a palavra o Senhor Bispo de Óbidos!


ÓBIDOS (PA)

HUGO ANTÔNIO FERRARI

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